Terráqueos

Dois Ets conversam, enquanto observam a queima de fogos em Copacabana:

“Esses terráqueos são uns idiotas: fazem uma festa desse tamanho para comemorar que seu planeta completou uma volta em torno do sol!”

Pois bem, se pensarmos friamente, somos obrigados a admitir que eles não deixam de ter razão. Mas o questionamento é outro: por que todos os habitantes de outros planetas que nos visitam nos chamam de terráqueos? Ainda que tenha um sentido pejorativo, de seres inferiores, quando o mencionam, o termo faz referência direta ao planeta Terra. E como sabem que nosso planeta se chama Terra?

Já que estou imaginando que existam outros seres interplanetários que nos visitam – além dos Incas Venusianos, que nunca mais voltaram, graças ao National Kid – posso imaginar também as circunstâncias e programações que envolvem suas visitas. Por exemplo: todos eles aprendem na escola, na tenra idade (se é que Ets têm tenra idade), que o sistema solar é composto por Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno (além de Plutão, uma espécie de estagiário)?

Ou eles se orientam por uma espécie de Guia do Mochileiro das Galáxias, que descreve os planetas, sua história, suas atrações turísticas, onde se hospedar, onde comer o melhor peixe frito etc.? Como somos um povo menos desenvolvido – não passamos de terráqueos – desconhecemos o que se fala no universo a nosso respeito. Desconhecemos com quantas estrelas os viajantes do cosmos classificam nossos hotéis.

Por exemplo: como existe a Organização Mundial do Turismo, ligada à ONU, pode existir uma organização intergaláctica de turismo, que traz, num blog ou numa página oficial, as informações básicas para os extraterrestres que pretendam viajar nas férias e descobrir novos horizontes. Aquilo que falei há pouco: como chegar, onde estacionar, como pegar um táxi que não se perca numa área do tráfico, qual protetor solar é melhor para nosso sol de verão, como evitar o roubo de seu celular e outras dicas essenciais aos turistas maravilhados com nossas belezas naturais.

Devemos admitir, entretanto, que o fato de sempre nos tratarem como meros terráqueos significa que o verbete dedicado à Terra nesse mapa interestelar não deve ser muito elogioso. Devemos ser classificados como um planeta do terceiro mundo, inóspito, com condições sanitárias precárias, cobras e macacos coexistindo pelas ruas das cidades, onde não se deve beber a água e comer a comida, sob risco de distúrbios alimentares ou envenenamento.

Corremos o risco, também, graças aos altos índices de violência, de nos classificarem como um mundo aberto a safáris de caça, o que explicaria alguns filmes como ‘Marte Ataca’, ‘O Dia em que a Terra Parou’ e ‘O Predador’.

Nunca se sabe. Um povo que faz uma festa monumental para cada volta do planeta em torno do sol deve servir para alguma coisa. 

Em tempo: O diálogo fictício entre os ETs do início do texto foi descoberto numa postagem do Threads. 

Marco Antonio Zanfra

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