Meu cachorro Fred senta-se às vezes na minha frente e me encara, sem falar nada – ainda que não, principalmente, no modo verbal – como se estivesse esperando alguma reação de minha parte. Seu olhar fixo, perene, imperturbável, parece indicar que ele quer pedir alguma coisa. Brinco que ele está tentando me hipnotizar, mas descobri agora que o que ele busca, na verdade, é uma conexão entre o cérebro dele e o meu. E, é claro, com a intenção de pedir alguma coisa.
Li há pouco na Folha que pesquisadores chineses descobriram que diferentes espécies, não apenas humano x humano, podem ter um chamado ‘acoplamento neural’, que é quando a atividade cerebral de dois ou mais indivíduos se alinha durante uma interação. Isso acontece durante a troca de olhares – ou quando o cachorro fica te encarando insistentemente, como o Fred faz comigo.
Segundo a matéria da Folha, “é bem possível que olhar nos olhos do seu cão signifique que seus respectivos sinais cerebrais vão se sincronizar e aumentar a conexão entre vocês; quanto mais familiarizados vocês estiverem um com o outro, mais forte ela se torna, ao que tudo indica.”
Nos humanos, os olhos nos olhos induzem à conexão, mas isso só acontece presencialmente. As conversas on-line são tão pouco produtivas porque, olhando para a imagem da pessoa da tela, você não está olhando para os olhos dela; para conseguir olhá-la dessa forma, teria de fitar a lente da câmera, o mesmo acontecendo com o interlocutor, o que deixaria a impressão de duas pessoas conversando sem se olhar.
A matéria fala apenas em cães, mas eu acho que os gatos também procuram o tal de acoplamento neural – a diferença é que eles não querem pedir alguma coisa, mas mandar que você lhes faça algo. O gato aqui de casa, Deck, costuma ficar sentado um largo tempo olhando para mim quando quer comida, e eu demoro a dar, só de birra. Outra: quando ele quer beber água da tigela e o cachorro bebeu antes, ele se senta e fica mandando com o olhar que eu troque a água, porque ele não bebe nada que tenha baba canina em sua composição.