Comidas que odeio

Não chega a ser exatamente um trauma, mas remete a certos dissabores de minha infância: odeio dobradinha! Não consigo mastigar aquela coisa esponjosa, cheia de esporões pontiagudos, que a massa ignara chama de bucho. Só de pensar, meu estômago dá um nó – não a ponto de vomitar, como o gatinho da imagem, mas quase!

A dobradinha que minha mãe fazia era diferente das que você encontra hoje em dia nos bares: não levava linguiça defumada e feijão branco, era apenas aquela coisa esponjosa mergulhada em molho de tomate, e que levava alguns toques de margarina quando se colocava no prato. Mas a diferença maior entre a dobradinha de então e a de agora é que esta de agora eu tenho como recusar.

Posso dizer sem sombra de dúvida que a dobradinha é o prato principal que não me vai de jeito nenhum, mas há outras restrições menores – que não deixam de merecer minha antipatia, caso contrário o título não poderia ser no plural. Dá para resumir que minha aversão às vezes se dirige não a pratos completos, mas a ingredientes.

Jiló, por exemplo: é inaceitável, em qualquer versão! Berinjela, só cozida, cortada em cubos e temperada como salada, com alho e azeite (mesmo assim, raramente, porque me pinica a língua)! Cenoura, só com carne, e mesmo assim muito de vez em quando (bolo de cenoura, fora de cogitação)! Beterraba, dispenso! Shimeji e shitake, argh! (champignon ainda vai, mas em pizzas ou strogonoff). Carne de soja, t’esconjuro! Chuchu, nem com camarão! Uva passa dispensa comentários! O mesmo para cominho!

Embora carnívoro com direito a selo holográfico de autenticidade, não encaro miolos da vaca, o curanchim da galinha, ovas de peixe (mesmo se fosse caviar), testículos de boi, maminha e fraldinha (sim, é psicológico!), quibe (o trigo mascara o sabor da carne), coxinha (não há nada mais insosso do que peito de frango desfiado), língua de boi e aliche. Nunca comi escargot nem pretendo!

Se pesarmos prós e contras com objetividade, vamos constatar que minha relação de ódios é muito menor do que a de amores, no entanto. Numa situação de escassez de alimentos, eu seria um dos últimos a sucumbir, mesmo que não aceitasse abolir alguns itens de minha lista negra. Se fosse necessário para ganhar alguns dias a mais de sobrevivência, até aceitaria baixar um pouco a guarda e aceitar alguns alimentos antes execrados.

Menos, é claro, a dobradinha!

Marco Antonio Zanfra

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *