Os canarinhos não gorjeiam mais

Imaginemos apenas como um balão de ensaio essa história do segundo uniforme da Seleção Brasileira na cor vermelha. Sabe-se que a definição virá apenas no próximo ano, às vésperas da Copa do Mundo e, posteriormente, das eleições presidenciais. Neste caso, mantida a “vermelhinha”, fica fácil prever a polarização. De um lado, a direita, que há muito usurpou um dos símbolos do futebol brasileiro; do outro, a esquerda colorada, tachada de comunista, corrupta, ladra e outros nomes impronunciáveis.

A propósito, em 1917, o Brasil já usou uma camisa vermelha em uma competição sul-americana. Na ocasião, como o branco predominasse nos uniformes de Uruguai, Chile e Brasil, foi realizado um sorteio. Sobrou a camiseta vermelha para os brasileiros, que perderam de 4 a 0 para os uruguaios (à época, os melhores das Américas), ganharam de 5 a 0 dos chilenos e ficaram em terceiro lugar.

De qualquer maneira, a ação da patrocinadora da Seleção não deixa de ser uma baita jogada de marketing. A exposição da “vermelhinha” conseguiu aglutinar milhões de opiniões favoráveis ou nem tanto de brasileiros de todos os matizes políticos. Fosse a camiseta verde, roxa ou rosa, provavelmente, não teria o mesmo efeito.   

Quem abomina o vermelho ou qualquer outra cor diferente no uniforme dos brasileiros se apega à tradição e respeito às cores da nossa bandeira. Ao verde de nossas matas, ao amarelo de nossas riquezas minerais e o azul do nosso céu. Balela. Demorei um pouco, desde os primeiros bancos escolares, para aprender que o verde, na verdade, tem a ver com a Casa de Bragança, de onde veio o príncipe D. Pedro, e o amarelo à austríaca Casa de Habsburgo, de dona Leopoldina.

É mais o vermelho também não nos diz respeito, dirão ainda os contestadores. De fato, não. Mas representa, na minha opinião, a garra, a raiva, a cólera, a vergonha e o rubor na cara, a vontade de vencer a qualquer custo. Tudo o que não temos notado nesses simpáticos rapazes que, quatro ou cinco vezes por ano, desembarcam em terras sul-americanas, para nos “brindar” com um vexame atrás do outro.

Questões políticas à parte, prefiro alegar o apreço ao bom futebol para justificar essa espécie de ranço da amarelinha adquirido nos últimos anos. Ainda mais que sou do tempo em que os “canarinhos” gorjeavam, saltitavam e atropelavam adversários, fossem eles quem fossem. Hoje em dia, não. Estou cansado de ver equipes pífias, formadas por jogadores indicados por empresários, “amareladas” dentro de campo.

Vou deixar como exemplo, o último confronto entre Brasil e Argentina. Alguns dos nossos jogadores entraram em campo cheios de bravatas. Em vez de prometer um bom futebol, ameaçavam dar “porradas” daqui e de lá. Saíram mansinhos, humilhados, feitos cordeirinhos. Detalhe: a camiseta era a mesma amarela de tantas glórias passadas e o calção, que era azul, infelizmente, ficou marrom…

Manoel Dorneles

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