O melhor de nós mesmos

Este texto atende o desafio de escrever

sem Ponto, apenas usando vírgulas


Certeza absoluta de que o desfecho do caso da jovem Juliana Marins, que no final se tornou previsível, deixou um sentimento de frustração em todos nós, que um dia fomos jovens, audazes e aventureiros, claro, alguns mais, outros menos, pois a coragem, o risco, o perigo sempre funcionaram como excelentes aditivos, a nos empurrar montanha acima ou precipício abaixo, pelo menos no meu caso, que a vida inteira busquei por alguma atividade esportiva ou viagens que me proporcionassem algum tipo de aventura ou uma carga extra de adrenalina, a exemplo das que fiz pelas cavernas da Chapada Diamantina, em Pucon (Chile), em Torres del Paine, na Patagônia chilena, na Chapada dos Veadeiros ou Jalapão, onde levei um dos maiores sustos de minha vida, exatamente num acquaride de mais de um quilômetro no rio São João Novo, aliás, para quem não sabe, no acquaride, você desce o rio em duas boias em forma de banana, segurando apenas nas alças dispostas sobre elas, ou seja, de acordo com a boa vontade das corredeiras, qualquer topada numa pedra ou num barranco, a pessoa se solta e daí para pegar as boias de volta, é um Deus nos acuda, o que ocorreu comigo em duas oportunidades naquela ocasião, sendo que na última, perto do final do percurso, fui levado para a parte mais funda do rio e, quando começava a entrar em desespero, já quase sem fôlego, consegui chegar perto da margem, onde fui alçado por duas mãos amigas, o que, convenhamos, passado o baita susto, me fez descobrir que ainda não era a minha vez de ir embora deste mundo, como também não foi, quando embarquei num rafting nível 5, no rio Trancura ou numa tirolesa de 1.500 metros, em Pucon, de qualquer maneira, sobrevivi para contar estas histórias e lembrar de minha santa mãezinha, que me dizia para eu ter muito cuidado com a água, sempre traiçoeira, mas também com os esportes do ar ou da terra, que mães, como é sabido, estão sempre preocupadas com qualquer coisa que seus rebentos façam longe das asas delas, como deve ter ficado a mãe da pobre Juliana ou teria ficado (se viva fosse) a do meu amigo, jornalista octagenário Antoninho Rossini, que acaba de lançar o livro Velhice Radical (editora Tag & Line), em que narra suas estripulias mundo afora, aventuras bem-sucedidas, como pular num bungee jump ou saltar de paraquedas, e outras nem tanto, como a de cerca de um ano e meio atrás, numa trilha na Serra da Canastra, em direção às nascentes do São Francisco, que lhe custou uma perna quebrada, uma operação delicada e alguns meses de imobilidade, a propósito, tempo que ele bem aproveitou para escrever o livro, não para se lamentar, mas incentivar e aconselhar os sexagenários, septuagenários e mais a nunca desistir de seus sonhos e projetos, afinal, desde que enfrentou o primeiro tigre dente de sabre, para defender sua caverna, milhares de anos atrás, o homem aprendeu que desafios são mais que necessários à nossa existência, independentemente do grau de dificuldade de cada um, seja numa escalada ao Kilimandjaro, seja numa caminhada pelo centro de São Paulo ou do Rio de Janeiro, e, independentemente também da idade, pois como diz Rossini, aos 82 anos,  “eu não posso parar, já estou criando novos planos para as minhas peraltices de aventureiro, pois pretendo ser a melhor versão de mim mesmo”.  

Manoel Dorneles

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