Serotonina em pedaços

Dizem que a gente nunca se livra de um mau hábito ou vício: troca-o por outro! Quem para de fumar, por exemplo, passa a mascar chicletes de nicotina, a chupar balas de hortelã ou a fumar cigarros eletrônicos; quem deixa de roer as unhas, controla sua ansiedade engolindo drágeas de diazepan; quem larga a bebida, se apega aos doces.

Foi assim comigo. De alcoólatra e chocólatra praticamente sem transição. Eu me lembro de que parei de beber em 1995 e no ano seguinte estava passando o dia de trabalho no Japão movido apenas a chocolates. Se houve uma transição, foi curta; diferentemente do cigarro: parei de fumar em 1990 e fiquei até 1998 sem tomar café, para evitar uma recaída.

O problema de se ‘livrar’ de um vício adotando outro é que às vezes o novo comportamento é tão ou mais deletério que o anterior. O uso do diazepan, por exemplo, provoca sonolência, tontura, confusão, redução das habilidades motoras e do estado de alerta, emoções entorpecidas, fraqueza muscular, dor de cabeça e visão dupla. Quando é que você teria isso tudo roendo as unhas?

Já os chicletes de nicotina, segundo estudos recentes, podem causar câncer, dependendo da dosagem – embora continuar fumando aumenta consideravelmente essa possibilidade. E a opção do cigarro eletrônico é tão destruidora quanto a do cigarro comum: pode causar câncer, enfisema pulmonar e bronquite, além de rouquidão, gengivite, problemas oculares e problemas neuropsiquiátricos. como depressão, ansiedade e perda de memória.

Entre o álcool e o chocolate, acho que as diferenças são maiores, mas não há virgem no puteiro: não tanto quanto os alcoólatras, os chocólatras também devem tomar cuidado com os efeitos colaterais. Principalmente para quem, como eu, abusa do substituto como abusava do álcool.

O ideal no consumo de chocolate é de vinte e cinco a trinta gramas diárias, o que equivale a uma barra pequena (pausa para uma risadinha sarcástica de quem come uma barra antes do café da manhã). Passar disso não é recomendado, porque, com o tempo, o chocólatra pode ter elevação de pressão arterial, taxas elevadas de glicose sanguínea, hipercolesterolemia, diabetes tipo 2, doenças coronarianas, e até agravar alguns tipos de câncer. Isso sem falar na obesidade – fator com o qual os que me conhecem sabem que não me preocupo. De positivo, tem o gosto inconfundível de chocolate e a ajuda na produção de serotonina, o ‘hormônio da felicidade’.

Mas, e o álcool? Beber também traz alegria, mesmo sem serotonina, mas os excessos são muito mais danosos do que os do chocolate: problemas no sistema digestivo e glândulas endócrinas, por causa da inflamação do pâncreas, inflamação do fígado, interferência nos níveis de açúcar (também por causa do pâncreas), impacto no sistema nervoso central, problemas no sistema circulatório, disfunção erétil e redução de testosterona, enfraquecimento ósseo e muscular, além da redução da imunidade natural (com propensão a pneumonias e tuberculose); por último, mas não menos importante, contribuição para alguns tipos de câncer, como de boca, faringe e laringe, esôfago, fígado e colorretal.

Pois é. Viver não é para amadores. Mas, entre o alcoolismo e o ‘chocolismo’, acho que não errei ao optar pelo segundo. Com todos os efeitos colaterais.

Marco Antonio Zanfra

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