Ouço um barulho no quarto como se alguém jogasse pela janela pequenas pedras, ou grãos de feijão, que rolam pelo chão.

É arte da árvore pata de vaca do prédio vizinho. As vagens carregadas de sementes explodem e a planta mãe lança as sementes o mais longe possível, para que as plantas filhas germinem e criem novas famílias.

No chão de tábuas de madeira do meu quarto, as sementes escuras e brilhantes encerram o voo da multiplicação da vida.

Na sala, a orquídea cattleya, fica perfumosa pela manhã e dura até o começo da tarde. Tenho pena. É como se estivesse esperando por uma abelha ou borboleta ou beija-flor. Alguém que faça a polinização e a ajude na determinação de deixar um legado entre nós.

Durante as noites, ela esconde seu perfume. Sabe que as abelhas, borboletas, beija-flores só voam durante o dia. E quando o sol nasce ela cria nova esperança e libera o perfume outra vez. Fará isso até envelhecer, até não aguentar mais, até secar a sua beleza. Não importa que eles não cheguem nunca.

A natureza está sempre tentando encontrar uma forma de resistir ao nosso mau jeito. Nós insistimos em limitar o espaço das árvores, plantas, flores. Mas elas insistem muito mais.

Não perdem a sua essência e passam de geração para geração as estratégias para manter viva a sua espécie. Essa é a sua natureza.

Neide Duarte

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