Não faz muito tempo – coisa de um governo (?) imediatamente anterior a este – a população brasileira dotada de mais de dois neurônios e com um grau de indignação desenvolvido a partir de civilidade, rezava para que um meteoro atingisse certos setores de Brasília, para pôr fim à bandalheira reinante na época. O alvo desejado não era a cidade toda ou as localidades satélites, mas apenas o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.
Era ali que se acobertavam o governo (?) e a classe política, responsáveis pelo disparate das ‘instituições estão funcionando’, da falta de vergonha na cara, do ‘dá cá o meu’ e do descaso absoluto com o sofrimento da população. Era ali que se desenhava o fim da cultura, da civilização, da educação e da saúde que o país levou anos para edificar.
Pois acabo de ler que, ao que parece, as preces finalmente serão atendidas. Não para já, entretanto, e não especificamente para Brasília. Mas existe a possibilidade de o planeta Terra ser atingido por um meteoro com cerca de quinhentos metros de diâmetro. Só que vai demorar um pouco: se houver o choque, a previsão é de que ocorra em setembro de 2182. Até lá, Brasília provavelmente já terá se autodestruído.
Trata-se do asteroide Bennu, que a cada seis anos transita mais próximo de nós e que, atualmente, está ‘logo ali’, a 299 mil quilômetros de distância. Provavelmente não estarei vivo para presenciar o evento – duvido que eu chegue aos 226 anos – mas, segundo especialistas, será bem melhor estar morto do que conviver com as consequências da colisão.
Haveria devastação imediata, com uma poderosa onda de choque, que acarretaria terremotos, incêndios florestais e radiação térmica. Também deixaria uma cratera enorme e lançaria grandes quantidades de detritos. Estima-se que o impacto injetaria de cem a quatrocentos milhões de toneladas de poeira na atmosfera, com repercussões no clima, na química atmosférica e no processo de fotossíntese. O escurecimento solar resultante duraria entre três e quatro anos.
Com o sol encoberto, haveria redução média de quatro graus na temperatura, redução de 15% do nível de chuvas e esgotamento de 32% na camada de ozônio. As condições climáticas desfavoráveis inibiriam o crescimento das plantas em terra e no oceano.
Os cientistas não calculam o número de perdas humanas, porque não têm como calcular a localização exata do choque. Mas eu me antecipo, no caso de as preces serem geopoliticamente atendidas: serão 634 pessoas (513 deputados + 81 senadores + presidente + vice-presidente + 38 ministros).