Sinto, mas não vejo. Como o vento, o perfume das flores. Vejo, mas não posso tocar. Como o Universo, quando olho para o alto. Segundo alguns estudiosos de cosmologia, como Os Observadores do Universo, o céu só existe porque olhamos para ele, ou porque ele é uma holografia, segundo os teóricos dos Antigos Astronautas. Acho que estou assistindo muito a série Alienígenas do Passado, do canal History.

Bem. Mas, também pode ser o horizonte, nunca alcançado, ou o arco-íris, onde está o pote de ouro.

Que seja. O pensar pode ser fora da caixa. Já o viver, hoje em dia de pandemia, principalmente nas grandes metrópoles, fica preso numa caixa, quatro paredes de concreto, sem visão para o mundo exterior. A não ser alguma janela ou sacada envidraçada.

Outro dia, sentado na sacada envidraçada de meu apartamento, num dia de chuva, pensei: “vou sair pelo campo debaixo dessa chuva”. Ledo engano. Mesmo descendo ao térreo do prédio, só encontrei concreto para pisar.

Quem vive em apartamento, sempre morou numa caixa. Não se dava conta, até agora, oito meses depois do início do afastamento social. Quem tem janela ou sacada envidraçada, como eu, ainda pode contemplar o panorama visto da ponte, ou através do vidro.

A vista da minha sacada pode ser comemorada como uma grata aparição de verde. Atrás do meu prédio, tem uma faixa de área verde preservada. Como meu apartamento fica nos fundos, essa área é como um jardim particular, todo arborizado. Vejo, mas não posso tocar.

Então, fico sentado olhando para fora, vendo as folhas mortas caírem, como na música “The autum leaves”. The falling leaves drift by the window. When autumn leaves start to fall. Embora não seja outono.

E vendo as folhas start to fall, imagino uma tela virtual em branco, no lugar das árvores, que eu chamei de Tela da vida dentro da caixa, num poema, meio prosa, meio verso, meio alguma coisa ou meio nada:

Pela janela / Rasgada num canto da tela / Recém-pintada em aquarela / Entre flores e donzelas / Vejo uma folha amarela / Antes viçosa, antes bela / Murchar e balançar galho afora / Ser movida pelo vai e vem da brisa / Dançar em sua jornada final / Se estatelar no solo e se transformar em pó / Ingrediente para alimentar nova semente / E a vida começa novamente / E continua a jornada da tela / Incompleta, mas viva e bela.

A folha, pode-se dizer, pulou fora da caixa. Se desprendeu de sua árvore prisioneira. Ou seria a árvore que lhe fornece a seiva, a vida. Claro que juntas, árvore e folha, formam uma unidade.

Hoje não é mais como ontem. O ontem se foi e o amanhã o que será? Só sei que quero fugir da caixa. Um dia!

Nereu Leme

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