Se, em 68 anos de vida, você achar uma única tampinha premiada, principalmente se não estiver procurando uma tampinha premiada, será que você pode ser considerado uma pessoa de sorte?

Em caso afirmativo, meus amigos, eu sou uma pessoa de sorte: quando criança, enquanto procurava nas tampinhas de garrafa pedaços de cortiça – sim, naquele tempo o revestimento interno das tampinhas era de cortiça – o guaraná Antarctica me surpreendeu com uma caneta Sheaffer de presente.

E não era qualquer caneta. Era uma esferográfica Sheaffer, que hoje está custando quase duzentos contos. E o mais importante: eu não estava procurando uma tampinha premiada; queria apenas a cortiça para tentar municiar o revolvinho de rolha de meu primo. Se eu já estava me considerando uma pessoa de sorte por ter achado a tampinha, ser premiado por algo que sequer passou pela minha cabeça aumenta consideravelmente esse conceito.

É diferente de a gente procurar a sorte. Apostar na loteria, nessas novas bets, no bicho… se você não ganha, é uma baita frustração. Mas é algo que está previsto no catálogo de mandamentos das apostas. Perder é muito mais provável do que ganhar, embora as pessoas achem sempre que o prêmio está logo ali, à sua espera.

Para ter uma ideia: com uma aposta mínima de seis números, você tem uma entre pouco mais de cinquenta milhões de chances de ganhar na Mega-Sena; na Quina, suas possibilidade mais que dobram: uma em vinte e quatro milhões; na Lotofácil, uma entre 3,2 milhões; na Lotomania, uma em onze milhões.

Mas há, é claro, momentos de sorte mais prosaicos e menos rentáveis. Por exemplo, ganhar um sorvete de brinde. A Kibon acaba de relançar a promoção Palito Premiado, que fez muito sucesso nos anos noventa. Só que tem um detalhe: cálculos feitos pela Folha de S. Paulo indicam que é muito mais fácil ganhar o prêmio mínimo da Lotomania do que receber um Fruttare de brinde.

Para ganhar o prêmio mínimo da Lotomania – acertar quinze números – você tem uma entre 112 chances; para encontrar a mensagem ‘vale um Fruttare’ no palito, suas possibilidades caem para uma entre 198. O cálculo foi feito em cima da ‘tiragem’ de picolés (9,9 milhões) e quantidade de palitos carimbados no lote, que alcança a marca desanimadora de cinquenta mil unidades. Haja sorte!

A Kibon, assim como os donos das centenas de bets atuando hoje no país, deve estar rindo sozinha: vai faturar R$ 89 milhões com os sorvetes vendidos e gastar apenas R$ 450 mil para distribuir o Fruttare de graça aos ‘sortudos’.

Então, eu penso que é mais fácil ganhar uma caneta Sheaffer numa tampinha de guaraná Antarctica do que chupar dois Fruttare pelo preço de um!

Marco Antonio Zanfra

Um comentário

  1. O mais próximo que cheguei dessa situação aí foi uma vez em que comprei um Crush (lembram desse refrigerante?). Pra mim, era uma delícia. A gente removia a cortiça da tampinha e ganhava outro refrigerante. Virado pra lua, naquele dia, tomei três crushes pelo preço de um!

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