Ao completar, neste 17 de março, trinta anos longe da bebida, peço licença para repetir um texto que publiquei em 2014 no blog ‘Fala, Zanfra’, quando trabalhava na Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Florianópolis, na gestão de César Souza Júnior (PSD). Tem tudo a ver com minha situação antes e depois de optar pela sobriedade. Poderia escrever mil textos sobre o mesmo assunto, mas este, em particular, retrata os dois lados da moeda com perfeição. Comemorem comigo!
As voltas que a vida dá
Em 1993, separado da mulher, desempregado e bebendo mais que um Maverick 6 cilindros, fui, por sugestão de um vizinho, procurar o deputado Cesar Souza – pai do atual prefeito de Florianópolis – na tentativa de arrumar emprego.
Mas fui ao lugar errado, também por sugestão desse vizinho: pedi para falar com ele na Assembleia Legislativa, desconhecendo que, na época, ele era deputado federal. Acabei conversando com o deputado Onofre Agostini, mas saí de lá ainda na condição de desempregado.
Relembro essa situação e a data longínquas para marcar a tese de que a vida dá voltas, desde que você saiba manobrar um pouco. Trabalho hoje, 21 anos depois, para o prefeito Cesar Souza Júnior – que na época tinha não mais que 13 anos – mas não se trata de uma simples coincidência: esta condição de hoje não existiria se, há 19 anos, eu não ‘manobrasse’ meu destino e não abandonasse a condição de Maverick 6 cilindros.
Pois é, queridos leitores: nesta segunda-feira, 17 de março, faço um brinde pelos 19 anos que estou longe de uma relação tempestuosa e deletéria que mantive durante muito tempo com a bebida. Não tivesse rompido esse relacionamento, provavelmente não estaria vivo para comemorar a vitória (além de não haver vitória a comemorar). E provavelmente sequer existiria um blog Fala, Zanfra! para contar a história.
Não posso dizer que a época citada no início do texto foi a mais negra da minha vida, porque depois caminhei ainda um pouco mais em direção à escuridão do fundo do poço. Mas, embora tenha descido ainda alguns centímetros mais, posso dizer que aquela fase poderia servir de referencial para qualquer campanha pela retomada da dignidade.
Jornalista talentoso, eu me via apelando a subterfúgios para conseguir dinheiro que me garantisse o sustento, tanto de comida quanto de bebida. Um desses subterfúgios era garimpar garrafas velhas pelos cantos da Ilha, para levá-las a um ferro-velho no Continente, perto do Detran, e negociá-las por uns trocados que comprariam uma garrafa (plástica) de uma cachaça chamada Serra Azul.
Outro subterfúgio era conseguir subempregos, independentemente de seu vínculo com a minha profissão, para os quais me dirigia a pé, em longas caminhadas, de modo a que pudesse usar o dinheiro destinado à condução para beber.
Seriam muitas histórias tristes e vergonhosas, mas não vou me alongar, porque, além de esses relatos doerem na alma, este texto é para comemorar um renascimento. É um texto de redenção. Depois que me livrei do fantasma do álcool, retomei a família, retomei a carreira e constituí o que ainda não tivera tempo de constituir: um patrimônio moral, intelectual e físico para legar. Um currículo de boas obras. E vários motivos de orgulho.
Portanto, tim-tim!