Telefone não tem cara (não tinha…)

Em agosto de 1993, quando a antiga Telesp finalmente conseguiu instalar a rede de telefonia celular em São Paulo, um dos primeiros a testá-la foi o então prefeito Paulo Maluf. Finalmente, porque o celular chegou ao Brasil em 1990. Segundo a Wikipedia, São Paulo é considerado o último grande mercado mundial a receber a inovação. Na época, eu entrava às 7 horas, no Estadão. Na antiga editoria de Cidades, neste horário, só ficávamos eu e a subeditora Anamaria Marchesini.

Na prefeitura, o setorista era o Alberto Luchetti, um jornalista excelente e especialista em imitar Maluf. Se comparar com alguém de hoje em dia, era uma espécie de Marcelo Adnet. Suas histórias do antigo governador e então prefeito eram hilárias, não apenas pelas reações do Maluf a certas situações, mas, também, pela voz e entonação perfeitas do Luchetti. Mas ele não virou comediante. Continuou no jornalismo, chegou a dirigir o Domingão do Faustão, na Globo, e abriu a primeira televisão a transmitir 24 horas ao vivo pela internet, a AllTV. Um dia, o telefone tocou e a Anamaria atendeu. Meio brava, desligou em seguida. Curiosa, perguntei quem havia ligado: “O Luchetti, dizendo que era o Maluf.”

Segundos depois, o telefone volta a tocar. A Anamaria atende. Era o Luchetti, dandogargalhadas tão altas que, do outro lado da mesa, eu conseguia ouvir. Claro que parei tudo o que fazia, para prestar atenção. Ainda rindo bem alto, Luchetti passou a ligação ao prefeito. “Dona Ana, aqui é o Paulo Maluf.” Depois de se identificar para uma Anamaria boquiaberta, informou que havia, sim, telefonado antes, usando um celular, para testar a rede recém-instalada pela Telesp e o aparelho.

A partir desse dia, cada vez que um de nós atendia telefonema de alguém, dizendo ser o Maluf, não se atrevia a desligar! Como diz minha mãe, telefone não tem cara! Só que hoje, com tantos recursos tecnológicos, tem, sim.

Célia Bretas Tahan

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