Como vim parar no Tocantins? Minha mãe, Vicência, esteve na segunda edição do Salão do Livro do Tocantins, representando a homenageada do ano anterior (2005), minha avó, Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, conhecida como Cora Coralina.
Voltou para São Paulo com uma edição do Jornal do Tocantins, na qual saíra na capa. E começou a contar sobre Palmas, a capital:
“A cidade tem muito para crescer, filha. Faz calor o ano inteiro. Tem até praia!” Parecia tão pouco! Mas era muito para quem sempre sonhou com um mundo melhor, sem violência, com qualidade de vida, com lazer, com chance de crescer, de construir coisas boas, decentes. E o mundo melhor existia!
Nem esperei que terminasse: “Mãe, é tudo o que pedi a Deus.” Peguei o jornal, vi os e-mails do editor-chefe, José Sebastião Pinheiro, e do editor-executivo, Marcelo Santos, e mandei o meu currículo. Com um detalhe: o assunto era “Neta de Cora Coralina”. Queria ter certeza absoluta de que leriam. E consegui.
O Tião respondeu que, realmente, precisavam de profissionais experientes no jornal, único diário impresso do estado. Só que tinha por norma conversar apenas se o jornalista estivesse estabelecido no Tocantins.
“Você vai até lá, pois nada como uma conversa olho no olho”, disse minha mãe. Compramos pela Internet as passagens de ida, para 3 de julho de 2006, e de volta, para 7 de julho de 2006. Cheguei quase meia-noite e só o que vi, ao entrar na cidade, foi o Palácio Araguaia, todo iluminado, maravilhoso, ainda com os frontispícios, e a avenida Theotônio Segurado.
No dia seguinte, ao sair do hotel, pouco antes das 9 horas, senti o calor do sol na minha pele, vi o céu azul, maravilhoso, as árvores e uma infinidade de pássaros. No caminho da então 103 Sul (nem sei qual a nomenclatura hoje), para a Organização Jaime Câmara, decidi que não voltaria a São Paulo e que me estabeleceria em Palmas.
Na Jaime Câmara, conheci a Fátima Roriz, o Tião, o Marcelo Santos, o Rogério Silva e um monte de gente. Eles não estão mais na empresa, mas, com certeza, participaram da construção dela. A mim, ajudaram muito a criar novas raízes aqui. Naquele dia, não conversamos nada definitivo sobre um emprego.
Saí de lá, direto para o shopping, onde, numa lan house (sim, na época eram a oportunidade de termos acesso à Internet, por um preço baixo), mudei o meu voo de volta a São Paulo para 31 de dezembro de 2006.
Em agosto, comecei a trabalhar na Câmara Municipal de Palmas. E me escolherem pelo currículo, sem apadrinhamento, sem privilégios. A Jaime Câmara veio depois, em plena campanha eleitoral.
Destino? Chamado? Bênção de Deus? Tudo isso e muito mais. É o típico “estava escrito”. Em dezembro, dia 31, fui para São Paulo e, em 5 de janeiro estava na estrada, dirigindo meu carro, com um filho de 14 anos, minha cachorra e dois gatos, de mudança para o Tocantins. Definitivamente!
Logo eu, que nunca dirigi mais do que 500 quilômetros em estradas, atravessei três estados e o Distrito Federal, num trajeto de 1.860 quilômetros, para chegar à Terra Prometida. É bom deixar claro que também detesto mudanças. E, aos 51 anos, fiz a mudança que nunca acreditei ter coragem: larguei tudo para trás, minha filha, amigos, mãe, irmãos, casa, móveis, livros, discos, fotos, para abraçar, com todo o meu amor, o mais novo Estado da Federação.
Sim, sou totalmente apaixonada pelo Tocantins. Sim, amo Palmas. Sim, acredito no futuro promissor da Capital e do Estado (acreditava…). Sim, estou aqui para dar o melhor de mim e ajudar a tornar tal futuro realidade.
Desde que cheguei – e até hoje -, uma coisa me deixa realmente irritada: alguém reclamando do Tocantins ou de Palmas. Se não gosta, vai embora. Aqui, tudo o que desejo é gente disposta a construir uma cidade e um Estado maravilhosos, garantindo a qualidade de vida em cada cantinho.
O Tocantins e o Brasil precisam de pessoas que acreditem que o futuro melhor existe (tomara). Preservem o verde, preservem a natureza, preservem a qualidade de vida, preservem a coisa pública, preservem, preservem e preservem. Assim, seremos referência para o mundo.
Fama, poder, glória e dinheiro só valem a pena quando se constrói o melhor para nossos filhos, netos, bisnetos e todas as gerações futuras. Minha avó Cora fez isso e estou aqui para fazer o mesmo.
Nestes 28 anos do Jornal do Tocantins (foi em 2006), 18 anos de Palmas e terceira edição do Salão do Livro, deixo aqui as minhas felicitações e um pedido a todos: por favor, lutem, lutem e lutem para manter o que têm de melhor e que todos os estados e capitais já perderam que é a qualidade de vida, a harmonia e a convivência com os vizinhos (nem tanto, hoje em dia…); a tranquilidade de sair às ruas sem medo; a natureza perfeita; o sol, a lua e as estrelas brilhantes, sem poluição; as árvores e as flores; o lago e o rio sem detritos, sem dejetos sanitários, sem sujeira.
Só espero que nossos políticos também amem realmente o Tocantins e se preocupem, tanto quanto todos nós, para que o estado e Palmas cresçam sem serem destruídos e degradados.
Temos tudo. Só precisamos preservar.
Parabéns, Palmas, parabéns, Tocantins. Amo vocês. De paixão!
*O artigo, escrito em 2006, e publicado, originalmente, no Jornal do Tocantins, conta a história da minha vinda para o estado, há quase 16 anos. Retrata muito da minha ingenuidade e esperança de um futuro melhor, não só para mim, mas para o estado. Fiz algumas alterações, para melhor situar a história.
Sei que nós, tocantinenses, passamos por momentos conturbados e difíceis, nos últimos tempos. E não estou me referindo à pandemia. Tivemos três cassações de governadores (um deles, duas vezes), e hoje, estamos nas mãos de um não-eleito, disposto a tudo para manter o poder. Ainda assim, na minha ingenuidade, ainda acredito que, não só o Tocantins, mas todo o Brasil, pode crescer e prosperar sem degradação, sem destruição, sem matança de inocentes e sem assalto aos cofres públicos.
Quanto a mim, deixei a profissão de jornalista em 2018, em plena campanha eleitoral, e, hoje, como concursada do governo estadual, trabalho na área de Tecnologia da Informação. É, aos 67 anos, recomecei, mais uma vez.
“Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras, planta roseiras e faz doces. Recomeça.” (Cora Coralina).
Palavras que estão marcadas na vida e na pele.
Lindo texto. Célia, amada e incrível amiga. aqui da guatemala às 7 horas da manhã com os olhos em lágrimas senti um baita orgulho de te contar entre aquelas que mais quero na vida…
Oh saudades sô….
Parabéns pela coragem. Belo relato. Isso aí, mulher pode estar onde ela quiser kkk