Quem faz o que quer…

As pessoas merecem respeito –  ou desrespeito – não importa o seu status.

Quem nunca teve vontade de mandar o chefe, uma autoridade ou o garçom do boteco catar coquinho? O garçom, acredito que muitos já mandaram. Agora, o chefe ou qualquer autoridade? Duvido!

Sempre fui do tipo “tolerância zero” para ações, perguntas ou atitudes idiotas. Mandei tanta gente catar coquinho, que perdi a conta. Perdi a conta, também, dos muitos empregos que “fui saída”, por dizer o que pensava, na cara de quem estava acima de mim na hierarquia.

Ao mesmo tempo, conquistei amigos verdadeiros, pessoas simples ou bem posicionadas. Na Assembleia do Tocantins, por exemplo, nunca fui barrada no plenário, por não ter crachá. “Seu” Alcides Carneiro Lopes sempre abria a porta para mim. Meu velhinho, como eu o chamava, se foi em 26 de outubro, aos 71 anos, vítima da diabetes. Sentirei falta dele, sempre sorrindo e de bem com a vida! Ainda tenho outros amigos por lá.

Coisas engraçadas também ocorreram, por eu não dar bola para autoridades.

Certa vez, participei de uma reunião do time de futebol de salão do jornal, para derrubar o técnico. Só que o técnico “demitido”, além de colega no jornal, era meu chefe numa secretaria municipal.

Como represália e sem força suficiente para pedir minha cabeça, me colocou à disposição do gabinete da secretaria, onde eu não tinha o que fazer. Então, passei a tomar sol, todos os dias, na piscina infantil da secretaria… embaixo da janela do antigo chefe! Claro que, um tempo depois, me chamaram no gabinete e pediram para parar com a provocação e para ficar em casa, de papo para o ar. Foi uma das únicas vezes na minha vida que ganhei para não trabalhar.

Houve outras ocasiões – ou várias -, envolvendo um governador. Eleito para mais um mandato, apresentava a nova equipe aos poucos, antes de assumir. Nas coletivas, sentava entre os jornalistas e os puxa-sacos. Normalmente, escolhia a cadeira atrás da minha e tumultuava meu trabalho.

Certa feita, enrolei as folhas de papel sulfite nas quais fazia anotações (ainda não tinha tablet) e me virei para acertá-lo. Ops!!! Peraí!!! “O cara é governador eleito”, pensei, a tempo de recuar. Não a tempo de ter meu gesto clicado por um fotógrafo. Ainda bem que estávamos nos primórdios das redes sociais!!!

Durante dois anos, fui uma pedra no sapato dele, interrompendo suas longas explanações, durante as coletivas, e fazendo perguntas que não queria responder. Um dia, me convidaram para assumir a assessoria de comunicação de uma secretaria recém-criada. Aceitei, duvidando que o governador concordaria. Onze dias depois, minha nomeação saiu publicada no Diário Oficial. Talvez tenha sido a forma que ele encontrou para me aquietar…

Quem sofreu foi o secretino que assumiu a Pasta, no último ano de governo!

P.S. Por favor, não sejam como eu. Prefiro lembrar as vitórias, mas as derrotas foram muitas e irreparáveis. Ser político e engolir alguns sapos ainda são as melhores coisas a se fazer, se quiserem manter amigos e empregos. 

Célia Bretas Tahan

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