Quantos por cento?

Um estudo recente sobre a formação dos alunos da escola pública concluiu que, de dois milhões formados no ensino médio, menos de cem mil saem da escola conseguindo resolver problemas de porcentagem e tendo na cabeça que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos.

Culpa dos estudantes?

Ouso dizer que não. Tomando como parâmetro meu próprio desempenho na área, posso supor que o problema está mais na dificuldade didática dos professores do que na capacidade de absorção dos ensinamentos por parte da estudantada.

Vejam: na primeira série do ginásio – que hoje corresponderia à quinta série – passei de ano em matemática sem precisar de exame final; na segunda, precisei de exame e de nota 4,5 para ser aprovado; na terceira série, fui para segunda época (recuperação, dependendo de novo exame para passar de ano); na quarta e última, passei de novo sem precisar de exame. No ensino médio, não me lembro de qualquer dificuldade em matemática ou trigonometria.

Essa variação nas avaliações seria, então, culpa minha? Creio que não.

A formação dos professores é algo estarrecedor. Já peguei erros gramaticais absurdos em professores de português. Não sei como eles conseguiriam ensinar aos alunos algo que eles absolutamente não sabiam.

Matemática é basicamente raciocínio, e os professores não ensinam a raciocinar. Eles teimam em repassar fórmulas. Para ter uma ideia, até hoje, quarenta e dois anos depois de terminar o ginásio, lembro-me sem engasgar da fórmula da equação de segundo grau – menos B, mais ou menos raiz quadrada de B² menos quatro AC, sobre 2A. Decorei. Mas não me peçam que resolva uma equação, porque não me lembro.

Esse mesmo estudo apontou que, embora não esteja também em nível satisfatório, o conhecimento de língua portuguesa é seis vezes mais absorvido pelos estudantes do nível médio. Por quê? Porque não depende de fórmulas mágicas, mas do uso contínuo. “A língua está muito mais presente que os números na nossa formação. A língua é aprendida primeiro em sua forma oral e ocorre de forma muito mais intensa”, resume Kátia Smole, ex-secretária de Educação Básica do MEC.

Saí da escola há quase cinquenta anos e as disciplinas fundamentais continuam com a mesma dinâmica que tinham no meu tempo: a ‘decoreba’ como fórmula imutável. Enquanto não ensinarem os estudantes a pensar, continuaremos com esses números desanimadores na educação básica. 

Marco Antonio Zanfra

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