Na extinta Folha da Tarde, a secretária do diretor de Redação – na época, editor responsável – era a Maria Zélia. Devia ter menos de 50 anos, pois completou 89 este mês. Aos olhos de uma então “menina’ de 22 anos, parecia bem mais velha.
Sisuda, não conversava muito com ninguém e seguia à risca as instruções do chefe. Diziam que era parente do velho Octávio Frias, dono da empresa. Devia ser, porque se comportava como quem não tem medo de perder o emprego.
Quando houve a greve dos jornalistas, em maio de 1979, salvou o meu emprego. Lembrou aos chefes, responsáveis por preparar a lista de demissões, que eu estava de licença-maternidade. Minha filha, hoje sindicalista e incentivadora de greves, nasceu dois dias antes da malfadada paralisação dos jornalistas. Foi uma greve que só beneficiou os patrões, mas isso é história para outro momento.
Voltando à Redação da FT, a Maria Zélia não parecia fazer questão de ter amigos. Aliás, até metia medo nas pessoas.
O tempo passou e nunca mais tive notícias dela, até o começo de fevereiro. Uma amiga pediu para eu usar minha “mágica” de achar pessoas, para descobrir onde anda a Maria Zélia. Na verdade, a preocupação havia surgido, porque uma ex-colega nossa, que fora amiga íntima da Maria Zelia (uau!!!), não a via há uns dois anos e não conseguia notícias dela.
Pelo pouco que se sabia, ela estava ruim, talvez com Alzheimer, e teria sido internada. Um bilhete deixado para o irmão da Maria Zélia, seis meses antes, nunca foi respondido.
Iniciei uma pesquisa no Google. Só consta o nome dela em três processos, o mais recente deles de 2007, movimentado pela última vez em 2014. Nada nas redes sociais, onde quase todos se encontram. Perguntei a amigos daquela época. Poucos se lembravam dela e nenhum havia sido seu “chegado”. Maria Zélia sumiu, sem deixar migalhas para seguirmos.
Não a encontrei nem achei o irmão dela. Continuamos procurando. Em mim, uma certeza: quem passa a vida isolado e achando que se basta a si mesmo, desaparece sem deixar marcas na história ou na vida de outras pessoas.
Se ela acabou de completar 99 anos e está com Alzheimer – caso ainda está esteja viva – para que encontrá-la?
Tem 89 anos. Já pedi para o Nereu corrigir. Queremos encontrá-la porque é alguém que fez parte das nossas vidas e importante para a pessoa que começou a busca.
Tá. Se encontrar, manda lembranças!