Onfalomancia

Tecnicamente, ele é apenas a herança biológica de uma ligação ancestral importantíssima. Anatomicamente, é uma estrutura formada por quatro partes – mamelão, cicatriz, rodete e sulcos – que perdeu sua função vital a partir do momento que em que foi seccionada após a eclosão. Esteticamente, é um buraquinho que pode significar um toque de mestre ou um garrancho numa obra de arte.

Se ainda não deu para perceber, ou o leitor passou pelo título sem procurar seu significado no dicionário, estou falando do umbigo, algo a que não é dada a menor importância, a menos que seu portador seja egocêntrico e construa seu universo ao redor dele.

A diferença entre ser um toque de mestre ou uma reles garatuja está na harmonia com que ele compõe a paisagem que o cerca: um ventre feminino altamente convidativo pode tornar-se quase repulsivo se o concerto for quebrado por um umbigo desarmônico. E os queridos leitores que me perdoem se falo apenas de umbigos femininos, mas – embora aceite que cada qual possa ter suas preferências – não consigo enxergar um ventre ‘altamente convidativo’ que não seja feminino.

Imagine o leitor uma Gisele Bündchen, com toda aquela estrutura dela, se tivesse o umbigo saltado como uma laranja bahia! Ou Margot Robbie! Ana de Armas! Charlize Theron! Jennifer Aniston! Ou – que me perdoem as demais, mas é a dona do umbigo mais lindo do mundo – Zendaya! Seria uma Mona Lisa faltando o dente da frente! Ou a Moça com Brinco de Pérola com os olhos remelentos.

Esteticamente, o mais comum dos bonitinhos é o que tem uma pequena saliência no lado superior, projetando uma ligeira sombra sobre a cavidade que abriga, se tudo deu certo, um naco de pele em forma de um botão de rosa. Tudo isso, é bom ressaltar, em dimensões reduzidas. Nada pior do que um umbigo rombudo, escuro, profundo, ou, ao contrário, com seu botão de rosa (ou coisa pior: uma couve-flor) muito próximo da superfície.

Como diria Vinícius, que me perdoem as feias, mas um umbigo bonito é fundamental!

E descobri agora que o umbigo pode não ser apenas a assinatura do artista na obra, mas adivinhar quantos filhos uma mulher pode ter, ou representar traços de personalidade do ser humano que o tem em sua barriga: já inventaram a onfalomancia, ciência que estuda a influência do formato do dito cujo na personalidade do indivíduo. Segundo o tabloide britânico The Sun, “embora não haja evidências científicas para apoiar a ideia de que o formato do umbigo possa prever o temperamento ou a expectativa de vida de cada um, as teorias sobre isso ainda assim são divertidas”.

As pessoas que têm o umbigo horizontal, por exemplo, segundo a onfalomancia, são complexas e bastante emocionais. Teriam dificuldades em confiar nos outros; quando confiam, em contrapartida, significaria que a outra pessoa é muito importante em sua vida. Já quem tem o umbigo vertical é autoconfiante e generoso, emocionalmente estável, ao contrário de seu congênere horizontal.

Um umbigo para fora costuma ocupar o ventre de uma pessoa otimista e que encara a vida com entusiasmo. Embora seja comum em bebês e crianças pequenas, o formato do umbigo saliente costuma ser modificado conforme a pessoa cresce. Se persiste além das idades iniciais, demonstra um caráter forte, teimoso, extrovertido, que persevera para conseguir o que quer. E eu acrescentaria: mas é feio que dói!

Uma pessoa modesta e equilibrada, com uma personalidade quieta e retraída,

costuma ter umbigo profundo ou redondo, porque tende a guardar para si o que sente em momentos difíceis, em vez de desabafar com a família e os amigos. Se o umbigo é oval, seu portador é gentil, amoroso, cauteloso e delicado. O umbigo oval seria comum em pessoas bastante sensíveis, que poderiam ficar magoadas facilmente, muitas vezes sem revelar o que sentiu. Estes indivíduos seriam impacientes e propensos a ficar entediados muito rapidamente.

Pelo que diz a ciência, eu deveria ser uma pessoa modesta, equilibrada, quieta e retraída. O que os que me conhecem sabem não ser verdade. Isso quer dizer que: ou a onfalomancia é mais um instrumento de enganação, como o horóscopo, ou meu umbigo não passa de um grande mentiroso!

Marco Antonio Zanfra