Juro que passei uns quinze minutos na internet, procurando uma resposta para a pergunta de Nereu Leme – por que parece que as jacutingas estão olhando para o infinito? – mas não encontrei nada que me satisfizesse. Aprendi muito sobre a ave, sim, e isso foi um ponto positivo no tempo gasto na pesquisa, mas acabei levantando uma dúvida mais genérica: por que parece que todas as aves estão olhando para o infinito?
No caso da jacutinga, pode ser um sintoma de desesperança. Li que o desmatamento e a caça predatória reduziram drasticamente a população da Aburria jacutinga (internet é cultura), tornando-a uma espécie em via de extinção. Há diversos programas de reprodução em cativeiro, de certa forma bem sucedidos – caso contrário não haveria jacutingas despertando a curiosidade de Nereu nos limites de seu quintal – com a reintrodução gradual da ave em seu habitat.
A galinha, porém, nunca esteve ameaçada de extinção e tem, na minha opinião, o mesmo olhar para o infinito da jacutinga. Será que, no caso, trata-se de desilusão com a vida em geral? Pensem comigo, meus queridos leitores: se sua vida se resumisse a botar ovos diariamente e a tornar-se, num futuro não muito distante, um reles frango assado – ou canja, num futuro um pouco mais distante – como fugir da depressão?
Creio que todas as aves têm o olhar perdido porque não enxergam grande coisa além da ponta do bico. São como míopes a quem retiram os óculos. No meu caso, quando me obrigam a tirar fotos três por quatro sem óculos, também pareço estar olhando para o infinito, como as jacutingas do Nereu. Talvez nem precisasse ter recorrido à internet para chegar a essa conclusão.
Mas, já que recorri, aguentem: o nome jacutinga vem do tupi e significa jacu branco, em referência às penas brancas do alto de sua cabeça e de suas asas. Também é conhecida como jacuapeti, jacupará e peru-do-mato. É uma ave arborícola da família dos cracídeos que habita matas virgens das regiões centro-oeste e sudeste.
Para encerrar, uma informação não muito boa do portal WikiAves: “A espécie já foi extinta em muitos locais em sua área de ocorrência original, como nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e sul da Bahia. Por exemplo em Itatiaia (Rio de Janeiro) foi vista pela última vez em 1978; na Serra dos Órgãos (Rio de Janeiro) em 1980. Há, no entanto, um projeto em andamento de reintrodução da espécie na Serra dos Órgãos e região.”
Com uma perspectiva como essa, só olhando para o infinito, mesmo…
Nota da Redação: A foto das duas Jacutingas foi feita no quintal da casa de Nereu Leme.