Oito bilhões e um

Não percebi grandes comoções em qualquer lugar quando se anunciou, recentemente, que a população mundial estava chegando a oito bilhões de habitantes. Notei que a notícia passou praticamente em brancas nuvens. Bem diferente do que aconteceu há exatos onze anos, com um bilhão a menos de gente sobre a face da Terra: eu me lembro claramente de que a divulgação da informação provocou um grande tumulto no trânsito de Florianópolis.


No exato dia da divulgação, 4 de novembro de 2011, uma sexta-feira, saí de casa às 6h30 para levar a patroa à rodoviária e só chegamos ao destino às 7h25, dez minutos depois de o ônibus ter partido. Em que cidade do país, não sendo São Paulo, você leva 55 minutos para percorrer menos de vinte quilômetros?


É certo que algumas obras – justamente para ‘melhorar o fluxo’ de veículos – tinham ajudado a atravancar ainda mais o tráfego, mas era óbvio que o fator ‘sete bilhões de habitantes’ tinha contribuído psicologicamente para o caos. Funcionou mais ou menos como o ingrediente chuva: ainda hoje, e sempre, basta ameaçar cair alguns pingos que o número de veículos em circulação aumenta em Florianópolis. Existe até a comparação dos carros da cidade com os Gremlins: bastou molhar que eles se multiplicam.


O engraçado é que apenas no trânsito se sentiu o efeito dos sete bilhões de habitantes: percorri o centro da cidade durante cerca de duas horas e não percebi maiores consequências da superpopulação – os corredores das lojas estavam transitáveis, as filas nos pontos de ônibus não chegavam a dobrar a esquina, não faltou pão nas padarias, o atendimento nas emergências médicas continuava demorando no máximo três semanas… Hoje, com oito bilhões, observei que a situação continua a mesma de onze anos atrás.


Ou seja: ou somente o trânsito refletia as sequelas do aumento populacional, ou eu senti os efeitos com mais intensidade porque estava ali dentro, parado, engrenando e desengrenando a marcha, de meio metro em meio metro, durante longos 55 minutos.

É muito mais provável que esta segunda opção seja a verdadeira. Mas, enfim, eu precisava de algo a que me apegar, e era mais fácil culpar os outros 6.999.999.999 habitantes do que a mim mesmo. E agora, entretanto, que eu tenho 7.999.999.999 pessoas para culpar e não encontro motivo para isso? Será que nestes onze anos Florianópolis aprendeu a administrar melhor seu bilhão a mais de novos viventes? Ou eu é que estou menos intolerante?

Marco Antonio Zanfra

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