O tesouro escondido…

Minha avó contava muitas histórias. Pretendia escrevê-las… um dia. Todas eram apoiadas em “dados reais”. Citava nomes, datas. Quando eu tinha uns seis anos (foi ontem!), ouvi, pela primeira vez, a do tesouro, escondido na casa dela, a Casa Velha da Ponte.

De acordo com a minha avó, um dos primeiros moradores da casa foi o recolhedor do quinto do ouro de Portugal, por volta do Século XVII, “um certo Thebas Ruiz”. O imposto, apelidado de “O Quinto dos Infernos”, correspondia a 20% de todo o ouro registrado nas casas de fundição do Brasil Colônia (quem quiser saber mais, volta aos bancos escolares ou dê um Google; só quero contar a o “causo” relatado por minha avó).

Naquele tempo, já havia corrupção e, como bom corrupto, o coletor tirava uma parte para si. Assim, foi ficando cada vez mais rico, adquirindo um patrimônio bem superior à sua renda, e acabou chamando a atenção das autoridades portuguesas. Ao ver que iam acabar com a sua “rachadinha”, o então servidor da Coroa decidiu esconder parte do que tomara para si.

Chamou um escravo de confiança e o faz cavar no porão da casa um buraco grande o suficiente para esconder a muamba (no sentido de pilhagem, ok?). Barras de ouro, moedas e outros objetos valiosos enterrados, deu veneno ao escravo e, também, tomou uma dose de algo semelhante à estricnina (ainda não fabricavam a cloroquina). 

Lembrando que eu tinha só seis anos… Minha vida e a dos meus irmãos nunca mais foi a mesma. Toda vez que íamos à Casa da Ponte, arregimentávamos “Seu” Tomé, o trabalhador de confiança da minha avó, e ficávamos horas, cavando no porão, em busca do tesouro do Thebas Ruiz. Nunca o encontramos, mas era diversão certa! 

Minha mãe, com muita lógica, dizia que, se havia algo escondido, estava nas paredes de pau a pique e barro goiano, apoiadas em pedras brutas, carregadas uma a uma por escravos. Sim, a largura era suficiente para esconder qualquer quantidade de butim.

Claro que vocês, leitores, como faço hoje, devem estar se perguntando o motivo de Thebas Ruiz se matar, depois de esconder o fruto da “rachadinha”. Acreditava que voltaria, numa outra vida, para resgatar o tesouro? Contou aos herdeiros como encontrar o “patrimônio”, antes de se matar? Claro que a imaginação fica por conta de cada um. Na minha, o cara não passava de um tremendo picareta!!! Burro, ainda por cima! Quisera eu que outros corruptos tomassem veneno, como ele…

Quem quiser saber mais, pode ler “Estórias da Casa Velha da Ponte”, de Cora Coralina. Aqui, a história, como me lembro, com pitadas atuais, como fazia minha avó; no livro, a narrativa de Cora.

Célia Bretas Tahan

2 comentários

  1. Prezada Célia Bretas,

    É uma honra para mim conviver e receber contos de Cora Coralina por seus descendentes!
    Gratidão ,

    Ângela Vêscovi

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