Memória de elefante?

No início de 1980, quando governava São Paulo, Paulo Salim Maluf era conhecido por sua memória prodigiosa. Em visita a cidades do Interior, sabia de cada detalhe da vida de todas as pessoas importantes na região. Importantes para ele, é claro!

– Como está sua esposa, Fulana? Muito ocupada com a assistência dos mais humildes, como sempre? E seu filho, Sicrano, já se formou em Medicina? Parabéns!

Era assim, sempre. Nada deixava de fora, nem mesmo perguntas discretas sobre amantes, filhos fora do casamento e, principalmente, ações e pretensões políticas.

– Vai se candidatar a deputado? Tem todo o meu apoio! Vou trazer grandes doadores para a sua campanha!

Muitas cidades, numerosos contatos, tinha tudo na ponta da língua.

– Vamos construir a estrada que deseja.

De quebra, prometia, ao pé do ouvido:

– As máquinas, equipamentos e homens ficam à disposição, para cuidar do acesso a sua fazenda (ou qualquer outro lugar de interesse da pessoa).

Quem acompanhava as andanças de Maluf, sabe bem como era. Mas, talvez desconheça a mágica por trás da memória e do conhecimento dele: as equipes precursoras.

Dias antes de cada visita, servidores do governo, inteligentes e capazes, iam às cidades e faziam um levantamento minucioso de tudo e de todos. Produziam relatórios detalhados e fichas sobre cada pessoa e assunto. DE-TA-LHA-DO, mesmo!

Nada escapava do crivo daqueles “agentes” (a Abin de hoje deveria ter gente como eles, para evitar tantas surpresas…). Até os pets de estimação entravam nas fichas.

Quando chegava ao município, o então governador ficava até de madrugada, lendo os relatórios. Aí, sim, entrava em cena a sua memória para gravar o que lhe seria útil.

As equipes precursoras são apenas um exemplo de quanto servidores inteligentes e capazes podem fazer. Servidores que, sim, hoje podem usar máquinas e internet para melhorar seu trabalho, mas jamais serão substituídos por inteligências artificiais. Fica a dica!

Célia Bretas Tahan

2 comentários

  1. Acompanhei várias dessas visitas de Maluf pelo estado. A chegada era sempre apoteótica: rojões e os acordes da introdução de ‘você, meu amigo de fé, meu irmão, camarada…’

  2. Numa época, Salim Curiati prefeito de SP, Maluf candidato não podia fazer campanha, mas acompanhava o prefeito em visita às administrações regionais – ou seja, não fazia campanha, mas marcava presença. A Folha me obrigava a acompanhar todas essas visitas, mas publicava pouco. Uma vez, depois de passar por Pirituba, encontrei com ele em Santana e ele reclamou: “A Folha não deu uma linha. A falta de prestígio é minha ou sua?” Respondi que esperava ser dele, porque gostava do meu emprego. Ele não perdeu tempo: “Não tem problema! Se você perder o emprego, te arrumo um pelo dobro do salário!”
    A Folha deu uma nota no Painel sobre isso. Resultado: quando perdi o emprego no jornal, nem tive coragem de pedir o ‘dobro do salário’ para ele.

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