Malditos coelhinhos!

No filme ‘Halloween – O início’, o personagem Michael Myers tem dez anos e é atormentado pelos colegas de escola e por sua própria família. Para extravasar o ódio que sentia pela opressão crescente, o garoto passa a usar uma máscara de palhaço e com ela tortura e mata animais. Até que, em um Dia das Bruxas, a mãe dele é chamada pelo psiquiatra da escola para uma conversa sobre um gato morto e fotos exibindo maus tratos a animais. A alegação do médico é que isso seriam indícios de que seu filho possui distúrbios psicológicos.

Não assisti a nenhum dos quatorze filmes gerados a partir dos ‘distúrbios psicológicos’ do garoto, mas sei que ele morreu e ressuscitou não sei quantas vezes, já teve ‘a última vingança’ mas voltou ‘vinte anos depois’, porque ‘o terror continua’, e está para apresentar o ‘ends’,  que pode significar tanto o fim da franquia quanto o gatilho para mais oito ou nove produções. Mas o que ficou claro no filme que citei no parágrafo anterior é que o menino não tinha manifestações de violência antes de seus dez anos.

Pois assim como Myers, também não tinha episódios de violência esse garoto de nove anos que, em Nova Fátima, no Paraná, invadiu o abrigo de um hospital veterinário e matou vinte e três pequenos animais – vinte coelhinhos e três porquinhos-da-índia – um dia depois de tê-los visitado num evento comemorativo do Dia das Crianças. As mortes, segundo relatos de diretores do hospital, apresentavam sinais de extrema violência, algo equiparável ao que faria o personagem de ‘Halloween’: os animaizinhos foram chutados, jogados contra a parede, tiveram as patas arrancadas e alguns foram esquartejados.

Inimputável – só os maiores de doze anos, segundo o ECA, podem ser submetidos a algum tipo de ação educativa – o menino mora com a avó e deve receber acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. A cidade de pouco mais de sete mil habitantes está atônita e, é claro, o ato em si não está imune a dezenas de mensagens de ódio, endereçadas à família do pequeno.

Vítima de maus-tratos, ele próprio? Bullying? Talvez a equipe multidisciplinar consiga desvendar o mistério que leva uma criança de nove anos a tornar-se um assassino sanguinário e covarde, extravasando seu ódio contra animais indefesos. Ou talvez algum aproveitador use o exemplo para criar uma saga cinematográfica do tipo ‘Halloween’.

Marco Antonio Zanfra

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