Fim do mar. Sei que ele não tem fim. Mas, terminou para mim. Acabou a praia, acabou o sol na areia. Larguei a casa no litoral e entrei no mato. Saí de Bertioga e fui para Guararema.
Aproveitei o vaivém das ondas, o rugido do oceano por dois anos, enquanto enfrentávamos a pandemia. Parecia um lugar sossegado para se viver. Exceto no Verão quando a população flutuante explode; exceto nos fins de semana quando a praia fica cheia de turistas de um dia; exceto nos dias de sol quando os ânimos ficam exaltados e o som alto come solto; exceto nos feriados quando o mundo inteiro desce a serra e desaba no litoral. Ledo sossego. Só que não.
Exceto nas noites em que carros com escapamento aberto faziam rachas ao lado de minha janela. Também tinha que descontar as madrugadas quando a bomba de recalque do prédio entrava em funcionamento (ou mal funcionamento), duas a três vezes, acordando todos.
Tinha coisas boas. Uma faixa verde de preservação ambiental atrás do prédio, bem ao lado da nossa sacada. Canto de passarinhos, visita de esquilos.
E, andar descalço na areia. Conseguíamos caminhar, eu e minha mulher, de oito a nove quilômetros por dia, até a ponta da praia de Riviera de São Lourenço. O terreno plano facilita a caminhada, mas o Sol, por sua vez, castiga a pele. Como diz uma amiga da minha filha que prefere o mato, é areia demais.
Talvez uma vida boa que enjoou. Como a pandemia isolou as pessoas, quando veio o liberou geral, embora o vírus Coronavírus ainda persista entre nós, a liberalidade sufocou quem já estava acostumado a um ambiente mais calmo.
Então procuramos novas aventuras. Mudar para testar outra vivência. Outra experiência. Como dizia São Thomás de Aquino, o homem é fruto do meio ambiente. Na praia, transpirávamos sal e a areia grudava em todo o corpo.
No mato, tentamos não pegar carrapato. As árvores se revelam, diferentes umas das outras, mostrando tons de verde, que te quero verde. Flores, como o Manacá da Serra, os Ipês. Árvores frondosas oferecendo vasta sombra, arbustos disputando um raio de Sol. Pássaros variados. Muito som, som do silêncio.
O ambiente vai nos influenciando e a vida vai se modificando. E ficamos parados observando o pôr do sol atrás das montanhas; o vento balançando os galhos das árvores e a grama crescendo sob nossos pés.
À noite, ver estrelas. Ora direis!
Ou céu colorido, como o da foto acima.
Quer dizer: foto de pôr do sol na praia nunca mais?
Só nas próximas férias. Mas, vai ter muita foto de Sol nascendo, se pondo, céu, nuvens e muito mato.