Leitura crítica

No filme ‘The Whale’ (‘A Baleia’), o professor de redação Charlie, que pesava 260 quilos – papel que rendeu a Brendan Fraser o Oscar de melhor ator – aconselhava seus alunos a substituírem sempre as palavras de seus textos, até chegarem àquela que represente exatamente o que se quer dizer. Essa recomendação é algo comum a quem escreve, porque, se você reler seu texto, seja quantas vezes for, sempre vai encontrar uma forma melhor de dizer o que queria.

O nome que se dá a essas releituras é ‘leitura crítica’, prática cotidiana aos escritores, sempre preocupados em aproximar seus textos do que seria o ideal. No caso dos textos mencionados pelo professor Charlie, calcula-se que os escritos de seus alunos não devam ultrapassar 20 ou 30 linhas, o que custaria no máximo 15 minutos para três ou quatro releituras. Mas o que dizer de uma leitura crítica de, por exemplo, um romance – mesmo não tão extensos quanto os de Stephen King?

Tomo um exemplo caseiro: acabei de escrever meu quinto livro policial e vou fazer, esta semana, minha primeira leitura crítica. A diferença entre este que vos fala e os alunos do professor é a quantidade de material a ser analisado. Meu livro, que levei quase um ano para escrever, tem 120 páginas no Word, o que equivale a 5.400 linhas. Vai dar trabalho?

Muito. Mas essa, e talvez outras subsequentes, é indispensável para aprimorar o trabalho. Você, certamente, vai mudar palavras, trocar orações de lugar, alterar sentido de períodos, acrescentar e/ou suprimir parágrafos, melhorar a composição do ambiente… A principal diferença de postura é que você vai ler seu texto mais como leitor do que como autor. Se você não gostar do que escreveu, quem garante que seu leitor vai gostar?

No meu primeiro livro, fiz um total de cinco leituras críticas: na primeira, logo depois que terminei de escrever, mudei metade de um capítulo, porque, com ele, era quebrado o ritmo da narrativa que vinha sendo desenvolvida até então; depois, a Editora Brasiliense pediu que eu reduzisse o número de páginas – e eu li uma vez enquanto reduzia e outra depois de reduzida; mais uma depois da passagem pela revisão; além de uma última, para garantir que estava tudo de acordo.

Vale lembrar: foram cinco leituras críticas num texto que, inicialmente, alcançava 5.850 linhas! E em cada uma delas eu descobria alguma coisa que podia ser melhorada.

Portanto, mãos à obra! Mesmo que seu texto seja bom, ele sempre pode, e merece, ser aperfeiçoado.

Marco Antonio Zanfra

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