Deve ter alguma explicação científica para isso: durante duas ou três horas em que me vejo diante de dezenas de pessoas fazendo fila para conseguir uma dedicatória no livro que acabo de lançar, meu organismo praticamente desliga suas funções fisiológicas. Apenas o que é necessário para dar atenção aos circunstantes – olhos para ver, ouvidos para ouvir, boca para sorrir, mão para autografar e cérebro para lembrar do nome e redigir a mensagem carinhosa – funciona nesse espaço de tempo. O restante, aí incluídos fome, sede e vontade de fazer xixi, fica guardado para depois do evento.
E não é de hoje! Em março de 2011, quando lancei meu primeiro livro – As covas gêmeas – só tomei meio copo de guaraná porque alguém insistiu em que o garçom levasse a bebida até mim. E olha que o lançamento foi na sede da Editora Brasiliense, que na época funcionava em Pinheiros, e havia um invejável serviço de bufê, com refrigerantes, torradas com patês diversos e espumante. Banheiro? Só fui conhecer no apagar das luzes, quando já estava de saída.
Pois no sábado, 18 de outubro, lancei meu sexto romance policial – Navio Fantasma – e a história se repetiu: dezenas de amigos que eu não via há anos prestigiaram o evento, que pela terceira vez seguida aconteceu no bar Canto Madalena, em Pinheiros. Todo mundo que passasse pela minha mesa, pegasse o livro, recebesse o abraço saudoso e algumas palavras carinhosas rabiscadas no frontispício do volume seguia na continuação para uma mesa, onde havia outros felizes detentores de minhas garatujas, tomava sua cervejinha e beliscava alguns petiscos maravilhosos da casa capitaneada pela Tita Dias.
E o autor aqui sentado na mesa, incólume. A bexiga só se lembrou de que estava cheia perto da meia-noite, já na casa de meu irmão Rui, que me hospedava e ajudava na venda dos livros.
Mas não há do que me queixar. O lançamento de Navio Fantasma foi, sem dúvida, o mais concorrido de minha carreira. Nunca abracei tantos velhos amigos de uma só vez. Foi até gente que eu não acreditava que iria. Foi até gente que tinha trabalhado comigo, sem muito contato, quarenta anos atrás. Quem, diante de uma circunstância dessas, vai se lembrar de comer, beber e urinar?
Pois bem, foi bonita a festa, pá, como diria Chico Buarque, mas acabou. Não vou fazer, desta vez, como fiz nas outras, vendas pessoais de livros, devidamente autografados, com remessa pelos Correios. Dá muito trabalho e o retorno é mínimo.
Mas o livro está à venda: quem se interessar pode recorrer à Amazon (https://www.amazon.com.br/s?k=9786501689432) ou ao Clube de Autores (https://clubedeautores.com.br//livro/navio-fantasma).