Feliz Natal

Pegando carona num trecho da crônica de Flávia Boggio, na Folha desta semana: se Deus teve a capacidade de engravidar uma mulher à distância, por que não teve também a capacidade de conseguir-lhe um quartinho com cama macia e água aquecida para o parto?

Ao contrário, abandonou-a à própria sorte. Ao final dos nove meses de gestação, fê-la percorrer quilômetros num lombo de burro e dar à luz numa insalubre manjedoura, cercada por animais não devidamente higienizados e assistida por um simples carpinteiro, que nem emprego de carteira assinada devia ter.

Deus queria o quê? Que ela tivesse feito reserva em hotel, justamente na alta temporada, para ter o filho com um mínimo de conforto?

Pegando carona novamente em Flávia Boggio, que pegou carona em uma música de Chico Buarque: “Deus é um cara gozador, adora brincadeira.” Mas entre ser gozador e ser mau caráter, principalmente em tempos do politicamente correto, vai uma distância muito curta.

Pois além de engravidar uma mulher virgem, colocando irresponsavelmente em risco a integridade de sua honra e fidelidade como esposa, deixou que ela se virasse sozinha. Ainda se o filho fosse uma criança normal, e não o revolucionário que defendia os pobres, fracos e oprimidos – e, em contrapartida, enfrentava os poderosos!

Ao longo dos anos, deixei de crer num Deus antropomorfizado, como querem nos impingir as religiões cristãs. Mas, se ele existisse, eu detestaria ter sido criado à sua imagem e semelhança. Sou mais humano e misericordioso, e tenho certamente mais escrúpulos do que a matriz.

Dizem que o Natal é época de reflexão. O problema é que as reflexões nem sempre garantem bons pensamentos. De qualquer forma, as festas não têm nada com isso!

Feliz Natal!

Marco Antonio Zanfra

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