Diz o Aurélio que eufemismo é o ato de suavizar a expressão duma ideia, substituindo a palavra apropriada por outra mais cortês.

Numa definição um pouco mais ampla, o eufemismo é uma palavra, locução ou acepção mais agradável, da qual se lança mão para suavizar ou minimizar o peso conotador de outra palavra, locução ou acepção menos agradável, mais grosseira ou mesmo tabuística (vi no dicionário: é quando se usa palavras chulas para órgãos do corpo ou funções orgânicas).

Ou seja, é dizer as coisas mais cabeludas de uma forma peruca kanekalon. Não tem mistério, não requer prática ou habilidade. Qualquer um é capaz de não dizer que uma pessoa é gorda ao usar o termo sobrepeso; que alguém não é burro, mas tem a inteligência limitada; que uma mulher não é feia, mas desprovida de beleza; e que inflação que derruba as contas no supermercado é uma reacomodação de preços.

Mas alguns eufemismos são dignos de prêmio. Devem ter sido bolados por toda uma equipe de marqueteiros. Por exemplo: como fazer que um indivíduo com dificuldades de locomoção, saúde fragilizada, restrições alimentares e bloqueios a iniciativas menos seguras possa aceitar que, sim, ele está na melhor idade? Quem bolou esse eufemismo, além de genial, deve ser inimigo mortal de quem criou a antiga placa que identificava os idosos, com aquele bonequinho encurvado e apoiado numa bengala!

Se a intenção é amenizar os danos, bingo! É mais ou menos como dizer que uma pessoa que morreu foi para um lugar melhor, ou encontrou a paz. Nesses casos, os eufemismos não amenizam absolutamente nada, mas as regras de convívio social obrigam a dizê-los e, em contrapartida, a aceitá-los.

Se insistirmos no efeito causado em danos, outro eufemismo (disfarçado de nome científico) que não resolve nada, mas vale como desculpa esfarrapada, é o tal de disfunção erétil. Como acontece com todos os homens, menos com os ‘imbrocháveis’, às vezes o sistema reprodutor pode deixar a desejar, e, para contornar a frustração mútua, não existe nada mais simples do que jogar uma ‘disfunção erétil’ em cima da parceira, como se fosse um fiapo de manga encravado nos dentes. Algo que faça parecer que o indivíduo tenha total controle sobre a solução do problema. Quem sabe da próxima vez…

O eufemismo pode às vezes se confundir com o politicamente correto. Aliás, quem pratica a filosofia do politicamente correto só fala com eufemismos. Às vezes, com exagero. Às vezes, contrariando quem eles pensam estar salvaguardando. Exemplo? Pergunte a um surdo se ele prefere ser chamado de surdo ou de deficiente auditivo?

Resumindo: eufemismo é bom, mas até doce de coco enjoa!

Marco Antonio Zanfra

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