Eu e meu amigo Chuck

O camarada vai passear no Rio de Janeiro, destino nº 1 das celebridades, e dá de cara com um super-herói em apuros. Socorre-o e ele, agradecido, encontra uma forma inusitada de retribuir. Arrout!

Não sei se já contei pra vocês, mas sou amigo do Chuck Norris. O mais certo seria dizer que ganhamos um certo grau de intimidade (se é que se pode ter intimidade com o Bradock), na última viagem dele ao Rio de Janeiro. Não trocamos confidências, não compartilhamos nada no Face, nem no Zap Zap, nem emprestamos dinheiro um ao outro, exceto os dez reais que lhe dei para que pagasse uma água de coco, perto do Posto 6, em Copacabana.

Imaginem a cena: um sujeito barbudo, suado e vermelho feito um pimentão, com cara de poucos amigos, com a carteira cheia de notas de 100 dólares, em pleno calçadão, sem um único cent ou Real, que fosse. O vendedor até que entendia bem o “no brazilian Money” do gringo, mas estava intransigente. Olhava cobiçoso os 100 dólares na mão de Chuck, mas não tinha muito que fazer. Podia até pegar a nota e enfiar no bolso, dizer que o valor da conta era aquele mesmo, mas tinha muita gente olhando. Também poderia ocorrer de ele pegar a nota de Norris, enfiar no bolso e assim, do nada, levar um roundhouse kick pelas ventas. Foi quando cheguei, não na tietagem, que não sou disso, mas com o intuito de dar um “help” mesmo. Tinha acabado de dar minha corridinha matinal pela praia.

Ninguém precisou me dizer nada para eu sacar a situação e, imediatamente, sacar do bolso uma nota de dez reais. Entreguei-a ao Mr. Norris, que relutou a princípio, mas pegou o dinheiro meio a contragosto. Olhei para ele e apontei com o queixo para o camelô, como se dissesse “Pay the coconut!”. Ele deu uma espécie de esgar a título de sorriso e entregou a nota ao vendedor, que lhe devolveu cinco reais. Recuso o troco e, no meu parco inglês, sugiro que ele pode precisar dele mais tarde, para comprar um outro coco. Ele diz “thank you”, “see you later” e sai todo feliz, sugando a água do coco com um canudinho, enquanto alguns turistas o aplaudem. Outros, nativos, até o reconhecem, mas fingem que não, para não dar o braço a torcer. Carioca é assim mesmo, parece sempre enfadado de tantas celebridades. Dizem até que se o sujeito ou a sujeita volta uma segunda vez ao Rio (e eles sempre voltam), tem sempre alguém que diz alguma coisa como “Hi, lá vem aquele (ou aquela) mala, de novo! Tomara que ele (ou ela) não me veja aqui!”. Paulistano já é mais humilde. Não tão afeito ao vai e vem dos famosos nas suas calçadas, quando vê um, vai logo pedindo um autógrafo ou então pra tirar uma selfie. Eu não. Sai andando, todo orgulhoso, afinal tinha socorrido um fulano, cuja trajetória na vida real parece se misturar com as de seus filmes. Dizem até, eu é que não sou louco de averiguar, que quando Deus disse “faça-se a luz”, Chuck lhe ordenou “Peça por favor’”.

Doutra feita, ele teria pedido um Big Mac no Burger King. Foi prontamente atendido. Pessoas mais antigas contam que os dinossauros olharam torto para Chuck uma vez. Uma vez. Claro, podem ser histórias que o povo conta, mas que ele tem cara de bravão, lá isso tem mesmo. Voltei todo feliz para o hotel, pensando nas proezas do cara, e porque tinha praticado minha boa ação daquele dia. Yes, nós também temos solidariedade aqui na “Banana Republic”.

Tinha até esquecido do episódio da manhã, quando voltei ao calçadão de Copacabana, à tarde, para o chope de lei. Pois não é que paro num barzinho perto do Palace, e eis que sentado numa mesinha na calçada, desta vez sorridente e rodeado de amigos, está o Bradock, quer dizer, Mr. Norris. Pensei que não fosse me reconhecer, mas não só me cumprimentou de longe, como imediatamente chamou o garçom e lhe disse qualquer coisa no ouvido. Enquanto procuro uma mesa pra me acomodar e “ficar olhando as saias de quem vive pelas praias coloridas pelo sol”, chega o garçom e avisa que toda a bebida que eu tomasse daquela hora em diante já estava paga. Isso foi há mais ou menos um mês. Eu continuo sentado aqui no mesmo lugar. Entra garçom, sai garçom, bar fecha, bar abre, e eu aqui no meu chopinho. Bebo às custas de Bradock. Aliás, a última cena de que me lembro é de tê-lo visto embarcando em um porta-aviões fundeado aqui em Copacabana. Mas não tenho certeza, acho que estou meio bêbado. Garçom, mais um “chops”!!!
Manoel Dorneles

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