A moça do tempo falou em massa de ar polar em Florianópolis, e eu acho que a tal massa foi acompanhando meus passos, presa em volta do meu corpo, nos quarenta minutos que durou minha caminhada até a farmácia do posto de saúde, para buscar os remédios de uso contínuo desta casa de idosos. No celular, a informação era de uma temperatura de treze graus, com sensação térmica de onze, mas acho que os instrumentos deles estavam bem longe de mim e do vento glacial que me pegava pela proa.

Fala-se em aquecimento global, e eu torço por isso, por incorreto e nefasto que isso (o aquecimento) possa parecer. Mas, pelo que encarei hoje, acho que estamos nos aproximando mesmo é de uma nova Era do Gelo. Não nasci para isso, não nasci para o frio. Sou um espécime da fauna tropical, e o máximo que aguento é um frio de no mínimo vinte e dois graus, e mesmo assim somente se estiver dentro de um avião.

Não entendo essas pessoas que saem do aconchego de seus lares, às vezes sendo lambidas por um calor de quase trinta graus, para curtir a friaca da neve em São Joaquim e Urupema. O frio é tudo de ruim. Reduz as dimensões de seu corpo, te anestesia, reduz a vontade de fazer movimentos mais amplos, e pode matar.

Aqui em casa, os três somamos duzentos e vinte anos de idade – é claro que meu sogro, com seus noventa, contribui em muito para o resultado. O que eu quero dizer é que, com o avanço da idade, a sensação de frio também cresce. Estou fazendo o que nunca fiz na vida: ligando o aquecedor elétrico dez minutos antes de entrar no banho. E já troquei a resistência do chuveiro por outra mais forte. Prefiro sofrer queimaduras de primeiro grau a tiritar de frio.

Na sala e no quarto, o ar-condicionado ajuda a esquentar o ambiente, mas o auxílio de mantas e edredons não é menos do que indispensável. Não há ar quente que esquente seus pés, e meias às vezes parecem insuficientes. A união de todos os elementos – ar, meias, edredons e cobertores – ajuda a tornar a vida menos inóspita. Mas a ideia de que além dos dois metros quadrados que agasalham o seu mundinho aquecido o frio persiste inibe qualquer tentativa de achar que o universo é justo.

Se tem uma coisa pior que o frio é o frio com chuva. Estou aqui encorujado, digitando essas mal traçadas linhas no computador, e ouvindo o barulho da calha escoando o que não chega a ser uma tempestade, mas tem um volume notável. E constante. Frio com chuva acaba com minha fé na humanidade. E me irrita, porque não consigo fazer com que um cachorro de um ano e oito meses – que certamente tem visões diferentes das minhas para as condições climáticas – fique quietinho em seu canto.

Falaram tanto que o inverno seria mais quente, que teríamos um julho atípico, que eu me preparei para levar a vida como vinha levando até então. Não achei que teria meus movimentos cerceados pela quantidade de blusas e que seria obrigado a vestir o edredon e corrigir três a quatro palavras digitadas pelos dedos entorpecidos pelo frio. Acreditei que meus problemas com a temperatura tinham terminado. Mas acho que eles não vão embora tão cedo. E que o aquecimento global, por enquanto, só está servindo mesmo para provocar enchentes.

Marco Antonio Zanfra

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