O jornalista, escritor, roteirista e dramaturgo Mário Viana escreveu em seu blog ‘Vianices’ (vianices.wordpress.com) um texto sobre as agruras de conviver com gavetas desorganizadas, que têm pares de meias desapartados, cuecas e camisetas desarranjadas em seus graus de cores e conforto, além de documentos desindexados num arquivo que devia justamente indexá-los. Observei-lhe que, inconveniências à parte, as coisas podiam ser piores. Como no meu caso, por exemplo.

Minha casa está em obras, e só essa informação já deveria bastar para que os leitores compreendessem o que eu quis dizer no parágrafo anterior. Suas gavetas são desorganizadas? Pois as minhas nem podem ser chamadas de gavetas, porque perderam o padrão que as unia: os armários foram desmontados e elas, individualmente, distribuídas temporariamente em locais vários, por enquanto imunes à sanha de martelos e talhadeiras.

A reforma, geral e com nossa presença em casa, acontece no sistema de rodízio: vocês mexem aqui e nós ficamos lá, depois vocês mexem lá e nós ficamos aqui. Isso significa mudar tudo de lugar de uma hora para outra, espalhando pelos quartos coisas de cozinha e pela varanda coisas da casa inteira. Para dar uma ideia: a geladeira, com setenta centímetros de largura, tinha ido acomodar-se num pequeno hall entre as portas dos quartos, deixando indevassáveis vinte centímetros de passagem de cada lado.

Dentro do sistema de rodízio, a geladeira felizmente pôde ir agora para a varanda, cumprindo o empecilho menor de tapar a janela de nosso quarto (temporário, claro!). Neste outro quarto, onde escrevo, há duas camas box, uma sobre a outra, e todas as roupas que estavam acomodadas nos dois armários desmontados, o que nos obriga a uma vigilância extra, para evitar que o gato se refestele sobre elas. Enquanto escrevo, alguém parece estar cortando em pedacinhos, numa serra circular, uma placa de porcelanato.

Um outro quarto abriga tudo o que foi retirado da cozinha, menos o cooktop, a gás, que por segurança se transferiu para a varanda, a um metro e meio da geladeira. Ali perto, também, está a pia da churrasqueira, que concentra a lavagem de toda a louça da casa. Até pouco tempo atrás, era também nessa pia que tínhamos de lavar o rosto e escovar os dentes. Felizmente, porém, um dos banheiros foi reconstituído e recuperamos espaço essencial para a higiene pessoal básica.

Resumindo, é isso: a obra vai no mínimo até o final do mês, e, como envolve substituição do piso e abertura de paredes, temos de conviver com o barulho ensurdecedor da demolição e o cheiro lacrador da argamassa. O resultado final vai ser compensador, é claro, mas o trauma é inevitável. Tanto que me vi sonhando, esta noite, com uma das gavetas bagunçadas da crônica de Mário Viana. O único problema foi que não consegui identificar, no sonho, em que parte da casa essa gaveta tinha sido guardada.

Marco Antonio Zanfra

4 comentários

  1. Viver dentro da reforma é tortura.. E depois de pronto vem aquela limpeza que dura dias até que volte a ser de novo o lar doce lar

  2. Ahhh prezado escritor @marcozanfra como a vida, desorganizar para organizar. Vem coisa boa por aí, acredite. Boas reformas. Abraços 😊

  3. Parabéns!!! Pelo texto e pelo aniversário!!! Os dois são seus presentes para renovar, revigorar e reinventar sua vida.
    Desejo muito de tudo que você gosta.
    Viva seu dia.

  4. Reformas, aiaiai , meu consolo durante a eternidade que elas demoram é saber que um dia acabará,
    e me apego na esperança que tudo vai ficar melhor (🙏🏾), hehehehe
    Fica a dica.😉

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