Nós moramos num lugar chamado Pinhal Alto, no interior de Nova Petrópolis, na serra gaúcha. Foi colonizado por alemães em meados do século XIX. Até a Segunda Guerra, o nome era Tannenwald (Mata de Pinheiros) e foi aportuguesado por motivos óbvios. A comunidade é muito unida e, até hoje, o papo entre os descendentes é em alemão, ou melhor, no dialeto Hünsrick – a região de origem dos imigrantes, no sudoeste da Alemanha.
É claro que o dialeto é de 170 anos atrás e, além da transformação pelo tempo, teve acréscimo de palavras em português. Tanto que, quando alguém vai à região de origem, ninguém de lá entende esse linguajar.
E, como não podia deixar de ser, o pessoal daqui, quando fala o português, tem um forte sotaque germânico.
Bem, eu, paulistano, que cheguei a este paraíso em 2010, evidentemente não entendo bulhufas. Naturalmente, o pessoal é educado e, quando estamos presentes, falam o português. Aliás, fomos bem recebidos aqui, em boa parte (pra não dizer no total) porque os ancestrais da Susana Zilles, minha companheira, compunham uma das 17 famílias que colonizaram o local.
Bem, tanto estamos entrosados, que participamos da organização do Kerb, a festa da santa padroeira da localidade, uma comemoração de dois dias, com jogos germânicos, bailes e, claro, muito chopp.
Eu, particularmente, assumi o ofício de redator da ata das reuniões. Em cada uma delas, anoto a presença de todos. E aí, um dia, apareceu um novo participante, chefe de uma das equipes que disputam os jogos.
Pergunto, então o nome dele, para colocar na ata.
– Xandir – diz o sujeito.
Então eu pergunto:
– Como é que se escreve: é com X ou com CH?
Incontinenti, ele responde:
– É com Xota, ora! O nome dele, afinal, é JANDIR.