Do outro lado da rua

O outro lado fica logo ali. Mas, não é o nosso lado. É o lado dos outros, ou o oposto, o lado contrário. O reverso da moeda. Às vezes, nem o enxergamos. Pode gerar medo, como o “The Dark Side of the Moon”, ou o lado escuro da Lua.

Passamos ao largo, quando o assunto não é de nossa conta, não nos diz respeito. Porém, ele existe e quando o notamos, podemos ter uma surpresa, agradável ou não.

Como aconteceu quando me mudei para Guararema, na casa que aluguei da minha amiga Leila, a melhor corretora de imóveis da cidade.

Do outro lado da rua, a calçada estava com mato até a altura do muro. Muito mato e várias árvores secas, com seus galhos retorcidos caindo no chão. Uma cena desagradável de se ver desde o outro lado da rua.

Conversei com os vizinhos. “Precisamos fazer um abaixo-assinado para a Prefeitura cortar o mato e podar as árvores”, argumentei com o Gabriel, da casa ao lado.

Por coincidência, o caseiro do sítio, ao qual deveria pertencer a tal calçada, começou a roçar o mato no dia seguinte. Mas, não mexeu nas árvores secas. Pensei: “fez o serviço pela metade”. Quem sabe ele volte mais tarde para completar a tarefa.

Os dias se passaram e nada. As árvores não foram podadas e continuaram largadas e secas. Observando melhor essas árvores, descobri que eram frutíferas, eram amoreiras e que talvez, em algum momento, na Primavera, elas dessem frutos.

De repente, alguns dias depois, os galhos secos começaram a se vestir de verde, se encher de folhas e de pontinhos esbranquiçados. Eram mesmo as deliciosas amoras. Primeiro verdes, depois rosas e por fim vermelhas, prontas para serem saboreadas.

Nem todas amadureceram de uma vez. Como crianças, foram crescendo aos poucos. As irmãs mais velhas primeiro. Depois, as caçulas. Provei algumas. Deliciosas, com sabor silvestre e gosto de infância. Aliás, quem gostava muito de amoras, e acho que ainda gosta, é o meu sobrinho Daniel Lamoglie, que no final deste ano se forma médico e vai virar Doutor Daniel. Quando criança, ele se lambuzava das vermelhinhas, sujando a roupa e a cara.

Minha filha Mariana Leme, atriz e vegana com muito orgulho, também é fanática pelas amoras e por tudo que é natural e natureza.

Agora, o local virou uma romaria de adultos e crianças passando a pé, de bicicleta e provando as amoras do outro lado da rua. Doce surpresa! Ou um amor de amora.

Nereu Leme

Um comentário

  1. Belo texto, muito boa lembrança. Sou doido por comer frutas no pé. Hora dessas eu vou falar disso nesse site

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