Já mais ou menos respondendo à pergunta do título, acho que a gente nunca pode afirmar com certeza que fará ou deixará de fazer qualquer coisa. As circunstâncias mudam a cada fase da lua, e às vezes o inconcebível acontece. Você nunca vai cantar num karaokê? Você nunca vai aprender a fazer tricô? Você nunca vai participar de um programa tipo mundo cão?
Sobre esta última pergunta, posso responder: participei, há muito tempo, do programa ‘Casos de Família’, no SBT. Quer dizer, “participei” é uma forma condescendente que encontrei para definir minha passagem, praticamente sem abrir a boca, por dois blocos do programa comandado por Cristina Rocha, numa quarta-feira, 2 de junho de 2010. “Estive lá” acho que descreve melhor a situação.
O programa, que foi ao ar seis dias depois, tinha como tema o ciúme no banco dos réus, os crimes passionais. Por isso, acharam interessante convidar um repórter policial com certa experiência para falar alguma coisa. O problema é que esse repórter ficou em silêncio quase o tempo todo. A única vez em que abriu a boca para recitar meia dúzia de palavras, tinha duas ou três pessoas falando ao mesmo tempo, antes que a quarta palavra da série de meia dúzia fosse proferida.
Mas a culpa não foi minha, juro. Escalaram outras quatro pessoas para participar dos debates e três delas eram candidatas às eleições na época. Era mais do que previsto que elas tentariam conseguir mais espaço. Uma dessas convidadas, ao lado de quem me sentei na poltrona, era a criminalista e ex-deputada Zulaiê Cobra Ribeiro. Quem a conhece sabe que ela não fala pelos cotovelos, mas pelas articulações em geral.
Outra candidata era a procuradora Luíza Nagib Eluf. O terceiro, e o mais quietinho dos três, apesar de também ser candidato, era o estilista Ronaldo Ésper. O quarto convidado, e o único além de mim que não era candidato a nada, foi o blogueiro James Akel. Mas ele tinha cadeira cativa no SBT e estava, digamos, ‘em casa’.
Quer dizer, o único que fez papel de luminária no cenário fui eu.
Pensei que o programa estabeleceria uma ordem de pronunciamento. Ou que Cristina Rocha dirigisse especificamente perguntas a mim. Mas o único incentivo que tive a falar eram gestos de um rapaz da produção, sugerindo que conseguisse meu espaço no grito. Sinto muito, mas não fazia – e não faz até hoje – meu estilo. Se me convidaram, é porque queriam que eu falasse alguma coisa; se queriam que eu falasse alguma coisa, era só me reservar um pouco de espaço. Mas, como passei até pela maquilagem, acho que minha única função no dia era embelezar o cenário.
Mas eu “estive lá”, como já disse. Nos dois últimos blocos do programa, bastava prestar atenção a um jovem senhor de azul na poltrona central do palco, ao lado de Zulaiê Cobra Ribeiro – e, durante alguns instantes, ao lado também da dona do programa, que se sentou entre mim e Zulaiê para conversar, é claro, com a ex-deputada.
Cristina Rocha disse que pretendia continuar no tema, levando os mesmos convidados novamente ao programa, mas nunca mais fui convidado. Talvez até tenham promovido uma segunda sessão abordando o tema, mas entre os mesmos convidados esqueceram-se de me incluir. Acho que seu Sílvio Santos achou contraproducente gastar ida e volta de avião para alguém que entra mudo e sai calado do programa!
Vc não faz ideia de como, com seu silêncio e sua beleza, contribuiu para alavancar os índices do programa. Quem dera fossem todos os participantes como você. Parabéns