Não sei por que o carro parou, eu disse. A gente ia de Florianópolis a Criciúma sem escalas. Via Expressa, BR-101, duas horas de viagem. Não tinha previsão de parada. E de repente ele parou no acostamento da Via Expressa. A gente não tinha ainda rodado cinco minutos… Eu ia logo atrás dele, prestando atenção nas lanternas, e de repente tomei o susto.
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Mas ele parou tranquilamente, deu seta e tudo? Perguntaram. Não, respondi. Foi ao contrário. Ele deu uma guinada forte de direção, como se tivesse sentido uma dor, e freou forte, cantou pneu, deslizou pela areia do acostamento. Por isso, meu susto. Pisei no freio instintivamente, mas não consegui parar atrás dele. Parei uns cinquenta metros na frente.
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E aí vi pelo espelho o Rodolfo saindo do carro pela porta da direita. Tão abruptamente quanto foi a parada no acostamento. Se não estivesse bem presa no batente, a porta teria sido arrancada e ia parar lá em Capoeiras. Batia uma brisa fresca naquele começo de noite, mas o Rodolfo parecia um tufão, parecia girar velozmente quando se voltou para o carro.
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Você notou se estavam discutindo? Perguntaram. Não, eu disse, eu prestava atenção nas lanternas traseiras, não olhava lá dentro. Mas seria estranho se estivessem brigando: Rodolfo era um cara entojado, casado com uma mulher mais entojada ainda, mas ele se dava bem com o Alex. A mulher dele não gostava muito, mas eles eram unha e carne.
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Pela distância, não ouvi o que ele falava, mas ele parecia transtornado. Gesticulava, ia e voltava em direção à janela do carro, esbravejava, parecia uma saracura prestes a alçar voo. Eu continuei no meu carro, sem entender nada. Até que vi Rodolfo dar dois passos para trás, inclinar o corpo até ficar na altura da janela e colocar a mão direita na cabeça.
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Só quando ouvi o estampido é que compreendi o que tinha acontecido. E me perguntei se não poderia ter evitado. Alex saiu do carro devagar, olhando como se não acreditasse que Rodolfo tinha mesmo feito aquilo. Ele ficou bem uns dois minutos ao lado do corpo, e então colocou as duas mãos na cabeça e se sentou no chão. O trânsito continuou fluindo.
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Perguntaram se eu sabia que eles eram amantes e eu ri um riso nervoso, porque não sabia. Imaginei que um cara entojado como Rodolfo só poderia ser casado com a entojada da mulher dele. Ter um caso seria antinatural. Mas é verdade, disseram. A mulher ficou sabendo, ameaçou Alex e, por isso, o outro estava dispensando Rodolfo, por ter sido coagido.
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E então eu compreendi: quando se tem pouco espaço, como num tuíte, você tem de ser sucinto e correr o risco de errar. Alex não acreditou que Rodolfo fosse atirar; Rodolfo achou que, de alguma forma, Alex fosse impedi-lo. Deu no que deu. Ambos foram sucintos e resumiram suas vidas e seus amores a um máximo de 280 toques. Insuficientes. Como num tuíte.
OBS: Desafio Twitter. Este texto foi escrito com 280 toques em cada parágrafo, atendendo as regras do Twitter.
Só para ver se entendi: o Rodolfo se matou, sem querer se matar, porque o Alex o dispensou, pressionado pela mulher enjoada do amante?
Uau, grande repórter!
O Rodolfo e o Alex eram amantes. E a mulher do Rodolfo – entojada, nariz em pé (e não enjoada) – pressionou o Alex para que ele largasse o ‘homem’ dela! Essa história é real, com os nomes trocados. Até o local onde aconteceu é o mesmo.