De onde viemos, afinal?

Fui uma criança solitária, morando na roça até os meus seis anos, mais ou menos. Algumas vezes lembro de ter perguntado à minha mãe como foi que eu vim parar neste mundo. Cansei de ouvir a resposta. Com ela não tinha esse negócio de sementinha do papai na florzinha da mamãe, não. Boa de bico, a propósito, dizia que quem me trouxe foi a cegonha. De tanto ela insistir, acabei acreditando nessa lorota.

Com o tempo, passei a ter certeza absoluta de que lá em cima fizeram um pacote comigo dentro, bem malfeito por sinal, e colocaram no bico de uma simpática ave pernalta, que me despejou no quintal de casa. Passei a não ter tanta certeza assim, a partir do momento em que chegaram lá em casa umas meninas para ajudar minha mãe nos afazeres domésticos. Nas horas vagas, sabem como é, aquelas criaturinhas bondosas, com o dobro de minha idade, em plena puberdade, tiveram a brilhante ideia de me iniciar nas lides, digamos, libidinosas. Caridosas, me davam essas aulas lúdicas, sem cobrar nada por isso.

Entre as brincadeiras de papai e mamãe e as de médico e paciente, não foi muito difícil descobrir que as cegonhas, aves oriundas do Hemisfério Norte, jamais deram um rasante por estas terras tropicais. Para todos os efeitos, minha santa mãe, que não desconfiava de nada, continuava a bater na mesma tecla. E eu não era nem doido de discordar dela.  

Pouco tempo depois, grávida de minha irmã, a carregar um baita barrigão, ela teve o desplante de perguntar se eu queria que a cegonha trouxesse um irmãozinho ou uma irmãzinha. Sozinho no terreiro, como já disse, doido por um companheiro para brincar, claro que eu preferia que viesse um menino.

Às vésperas do parto, que naquela época, no sítio, era feito com parteira e tudo, minha mãe me mandou para a casa de um tio vizinho. De certo, não queria que eu presenciasse a entrega da encomenda vinda pelos ares. Quando chego em casa, para minha decepção, dou de cara com uma menina. Levou um tempo para eu me acostumar com a ideia de ter uma irmã, em vez de um irmão.

Não sei quanto a vocês, mas imagino que todo mundo, quando pequeno, teve a curiosidade de saber como nasceu. Ou então, muito mais tarde, ouviu de seus filhos essa inocente indagação. A questão é, como responder adequadamente à criança, sem destruir seu mundo de sonhos e ilusões.

Meu amigo Edson, que mora num condomínio na Barra, Rio de Janeiro, conta que foi surpreendido pelo filho, André, então com seus, oito, nove anos. Na cama com os pais, ele disparou:
– O que é sexo?

Surpresos, um olha pro outro, o outro olha pro um, por alguns segundos, até que decidem.  
– Bem, sexo é quando o papai põe o pipi na “precheca” da mamãe, respondeu Edson.

O garoto fez aquela cara de quem não ficou muito satisfeito com o que ouviu, e devolveu:
– Vocês fazem sexo?
– Claro, senão você e suas irmãs não teriam nascido, respondeu o pai.

Qualquer criança ficaria satisfeita com essa explicação simples e direta, ainda mais nos dias de hoje. Só que o pequeno André fez aquela cara de asco, que muitos entre nós, avançados na idade, fazemos quando se fala a respeito do assunto, e tascou:
– Ai, que nojo!

Manoel Dorneles

Um comentário

  1. Ainda bem que ele só sentiu nojo. Já pensou se ele perguntasse: “Dá pra sair uma bicicleta?”

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