Um barulho sinistro despertou minha atenção quando eu caminhava pela rua Admeleto Gasparini, numa manhã de Inverno.
Um barulho sibilante, agudo e prolongado com um toque metálico envolvente. Como se algum objeto grande e pesado tivesse caído repentinamente no meio das árvores, rasgando a mata e iluminando o tronco dos eucaliptos e sibipirunas.
Nesse trecho do bairro do Itaóca, em Guararema, a rua é ladeada por grandes árvores. Ladeada mesmo, de ambos os lados. Eucaliptos enormes, à direita, barram a luz do Sol deixando passar apenas brilhantes flashes eventuais, criando uma atmosfera noir de mistério.
Olhei de soslaio, um olhar de rabo de olho displicente, e tomei um susto.
Minha nossa! Uma cobra enrolada no tronco da árvore me encarava cinicamente, como se estivesse estudando meus movimentos.
Dei um passo para trás para observar melhor e me preparar para um eventual ataque. Me municiei de uma pedra para espantar o réptil, mas, de repente, a cobra sumiu no ar, por trás de um nevoeiro que foi se dissipando magicamente.
Procurei a cobra e nada.
Na árvore havia apenas um cipó enrolado. Afinal, era uma cobra ou um cipó?
Não tenho dúvidas de que era uma cobra, com um olho brilhante que se expandia e se ampliava como uma lente fotográfica de aproximação. Ou ela desapareceu no ar como um passe de mágica ou se transmutou no cipó, metamorfose disfarçada pelo nevoeiro intruso.
Coisa de caipira. Coisa do mato.
Parei um instante para pensa melhor. Tinha acabado de ver uma série de ficção científica, baseada no livro chines “O problema dos três corpos”, no qual os personagens interagem com um planeta (San-Ti) que possui um sistema solar de três sóis que oscila entre eras estáveis e caóticas.
Os habitantes desse planeta, os Trissolarianos, enviam para a Terra seus supercomputadores Sophon, capazes de reduzir seu tamanho ao de prótons e, também, de se expandir no ar para nos espionar. Coisa de cidade.
Ou era uma cobra ou então um Sophon. Na dúvida, chamei de Cobra-cipó sophonica.
Solitário, no meio da estrada cercada de eucaliptos e cipós, resolvi voltar para casa. Mas, antes, vasculhei todas as árvores ao redor. Só cipó. Acho que assustei a cobra ou o Sophon.
Voltei outro dia para conferir o ocorrido, com uma máquina fotográfica na mão, dotada de uma lente de aproximação. Sentei-me no barranco e esperei o lusco-fusco do entardecer na tentativa de descobrir algo misterioso ou pelo menos curioso.
Então, tirei a foto do cipó enrolado no eucalipto, publicada no início deste texto. Arre! Parece que o cipó tem uma cabeça, como a cabeça da cobra.
Só isso. Nada mais!
Interessante, mas isso aí tá me cheirando a velha dúvida do caboclo da piada: “É pau ou é toco?” Kkkkk