A idade chega sorrateira, sem pedir licença e, de repente, nos põe a recordar bons e maus tempos. No caso presente, um bom momento de um bom tempo de muito trabalho e pouco salário…ou salário nenhum.
Falo da finada Gazeta Mercantil, que já foi referência para o jornalismo econômico e que naufragou em meio à incúria de seus administradores.
Vou contar uma historieta bem curta que revela com graça e até inocência o chamado choque de gerações que sempre houve nas redações.
Um certo fim de tarde de um dia, do qual não me recordo bem qual era. A correria do fechamento de mais uma edição. Na página de um dos editores veteranos, um espaço ainda aberto, reservado para uma matéria pautada dias antes.
Um pouco mais ao longe a repórter novata adentra a redação. Para aqui, para ali, bebe água e finalmente chega à mesa do editor já aflito. Então, o diálogo:
– Oi, e aquela matéria?
– Qual delas?
– A entrevista com o empresário?
– Ah…essa matéria caiu?
– Como caiu?!
– Caiu. O empresário morreu…
– Morreu? Como morreu? Morreu de quê?
– Não sei. Acho que foi de causas naturais… já tinha 50 anos.
A jovem repórter virou as costas, parou aqui, parou ali e foi-se.
O editor veterano resignou-se e deu graças por estar vivo. Beirava os 60.
Contando História
O que o tempo altera e vira história
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