Angélica Garcia já tinha um monomotor quando resolveu comprar outro. O avião tinha sido um presente que seu pai, Astolfo, deu. O pai tinha uma empresa de táxi aéreo. Ela pensou: já que tinha um Cessna, por que não ampliar a frota e tornar-se uma herdeira
no ramo aeronáutico? Por razões de afinidade parental, era uma consequência lógica.
Astolfo queria distribuir seus aviões por cada um dos filhos, mas privilegiou a caçula. “Amo ela”, justificou-se. “Por ser a mais nova, por eu ter mais tempo, vi ela crescer dia após dia. Tenho fé demais em sua capacidade”. Ele havia dado um monomotor ao primogênito, mas este vendeu o avião para quitar dívidas de jogo. “Não adianta socar alho em feijão queimado”, ensinou o velho, decepcionado com o filho.
Já Angélica era o sonho do pai. “Vivo sendo surpreendido por essa fadinha! Além de empreendedora, ela canta muito bem. Ela trina como um sabiá. O que sai da boca dela é poesia pura!”, disse, embevecido. “Você avalia a estrutura de uma casa pela dona dessa casa!”
“Ela é a alma minha, mesmo que o irmão mais velho ponha a culpa nela pelas coisas erradas que fez”, ressaltou Astolfo. “Por causa dela, eu enfrentaria o mundo com uma mão só!” Apesar de ter outros filhos, Astolfo deu-se por realizado com Angélica, porque nunca gostou realmente dos demais.