Brincando com o DNA

Diz aí: como pode um instrumento capaz de ser usado como prova para condenar um assassino ser mais ridicularizado do que o exame de DNA nas novelas da tevê? Nas tramas novelescas, ele é falsificado, adulterado e improvisado, de diversas formas, e só é levado a sério, claro, pelos personagens que acabam saindo no prejuízo com as farsas armadas.

O problema não é o exame em si, mas as várias maneiras com que ele é facilmente manipulado. A credibilidade dos laboratórios especializados nesse tipo de exame deve ficar, por causa dessas falcatruas sugeridas, mais por baixo do que traseiro de cobra.

Se eu fosse representante desses laboratórios, já teria entrado com processo judicial contra a indústria noveleira por calúnia, injúria, difamação e danos morais. Aliás, não sei por que ainda não entraram, dadas as patacoadas que os roteiristas cometem em seu santo nome.

Usada pela primeira vez para condenar um assassino no Reino Unido, em 1986, a técnica de impressão genética desenvolvida pelo geneticista Alec Jeffreys merecia um pouco mais de respeito. Mas é tratada como se fosse um cheque sem fundos ou uma carta apócrifa. Parece mais fácil manipular o resultado do exame de DNA do que passar trote telefônico ou apertar a campainha e sair correndo.

Eu me lembro da novela ‘Tempos Modernos’, de 2010, onde os bonitinhos Fernanda Vasconcellos e Thiago Rodrigues eram apaixonados, mas passaram mais da metade dos capítulos acreditando que eram irmãos, por causa de um exame falsificado. De lá para cá, difícil encontrar uma novela em que, em um momento ou outro, alguém não tenha sido prejudicado por causa de um exame manipulado.

Recentemente, a elogiada ‘Vai na Fé’ teve seu momento de tropeço, quando o personagem Benjamin subornou o funcionário do laboratório (credenciado pela justiça, é bom ressaltar) para falsificar o exame e fazê-lo pai de Jenifer. A suspeita de manipulação, porém, fez com que o juiz mandasse que o exame fosse repetido.

Mais recentemente ainda, o mocinho da novela ‘Fuzuê’ Miguel ficou acreditando que era pai de uma criança ainda em gestação, porque o teste foi falsificado.

Poucos dias atrás, chegou-se ao absurdo: num exame de paternidade, a vilã Preciosa – que podia muito bem chamar-se Perniciosa – arrancou um fio de cabelo de uma outra mulher, ruiva como ela, e enviou-o como se fosse seu para um exame de compatibilidade genética com a mocinha Luna, também filha de seu pai. A compatibilidade do DNA, é óbvio, resultou negativa.

Há muitos anos fico indignado com essa artimanha contra o exame de DNA, mas confesso que este último caso passou dos limites. O autor de ‘Fuzuê’ quer que o povo acredite que, para fazer um exame judicial de paternidade, você pode arrancar o cabelo de alguém na rua e mandar para o juiz? Quem sabe até pelo Correio?

Como eu disse, passou dos limites: coloca em dúvida não só a integridade dos laboratórios, como também a seriedade da justiça!

Processo neles, para ver se essa onda não sossega! 

Marco Antonio Zanfra

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