Quando era criança eu queria ser criança e dançar na Gincana Kibon e ser aluna da Maria Olenewa e dançar “A morte do cisne”, e morrer tragicamente num gesto de nunca mais, naquele palco que eu desconfiava ser o mesmo do Circo do Arrelia.
Quando era criança queria ser companheira de Ivanhoé e cavalgar pelas terras do rei desaparecido, Ricardo Coração de Leão, usurpadas pelo irmão, príncipe John. E Roger Moore era o homem mais lindo que eu já tinha visto.
Quando era criança queria ser o Zorro, andar de capa, máscara, voar pelos telhados de Los Angeles e defender os oprimidos.
Quando era criança queria ser cantora e cantar nos Astros do Disco, apresentados pelo Blota Jr e Sonia Ribeiro.
Quando era criança queria ser a Emília no Sítio do Pica-pau Amarelo, do Júlio Gouveia e da Tatiana Belinky.
Quando era criança queria, às vezes, ser uma fada para usar os vestidos que os livros descreviam: cor de chuva, cor de nuvem, cor de rio, cor de cordilheira.
Depois de Bat Masterson decidi: queria ser detetive.
Quando adolescente fui visitar a Folha de S.Paulo, na redação as divisórias eram todas de madeira escura, igualzinho aos filmes noir, lugar de mistérios e de investigações.
Ali senti que a minha vocação se confirmava: seria detetive.