Ana Luíza, nossa professora de teclado no Sesc, falava sobre os intervalos de sexta na música – que é quando a sequência de notas mantém uma distância de seis teclas entre uma e outra, como um dó e um lá – e nos passou como exemplo a partitura da música tema do filme ‘Love Story’, de Francis Lai.
(Não querendo parecer professoral, acho que devo explicar que essa música decresce seis notas – ou teclas – logo no início da melodia. É um ótimo exemplo do intervalo de sexta. Experimente: dó-mi-mi-dó-dó/mi-mi-dó-dó/mi-fá-mi-ré/ré-ré-si-si…)
Assim que deslizou seus dedos sobre o próprio teclado, mostrando na prática o que acabara de teorizar, a professora complementou a informação, dizendo que a música era tema do filme ‘Love Story’, “dos anos setenta”; comentei que era um filme legal, embora triste, porque a mocinha morria…
… e isso bastou para ser chamado de estraga-prazeres, por ter contado o final do filme!
(Pausa para digerir o espanto)
Peraí: pode alguém ser acusado de passar spoiler de um filme de 1970, que foi recorde de bilheteria? Ou seja, contar o final de um filme de mais de cinquenta anos de idade, já visto por milhões de pessoas? Alguém ainda não sabia o enredo de ‘Love Story’, as crises de um casamento tempestuoso por causa das diferenças sociais? Alguém ainda desconhecia que a pobre estudante de música Jenny (Ali MacGraw) morreria de leucemia ao final do filme, deixando choroso o bonitinho Oliver (Ryan O’Neal) e a plateia toda? Alguém anda não sabia que a frase “amar é nunca ter de pedir perdão” nascera do ideário de ‘Love Story’?
Respondo à série de indagações do parágrafo anterior e digo que, a julgar pela reação de Ana Luiza logo no início do texto, pelo menos uma pessoa não sabia da história do filme, e eu estraguei sua surpresa. Devo ter-lhe economizado alguns litros de lágrimas com isso. A partir desta última experiência, devo, pois, tomar mais cuidado: jamais contar a quem quer que seja que Romeu e Julieta não viveram felizes para sempre e que aquele barbudo de ‘Paixão de Cristo’ morre no final.