Dizem que é veneno, que é cancerígeno, brochante e tal, mas não tem jeito: sou viciado em glutamato monossódico há anos. Não como uma saudável salada de beterraba sem a adição de umas pitadas de aji-no-moto. Não refogo uma carne – qualquer carne – sem acrescentar um sazon ao alho, cebola, mostarda e molho de pimenta.
Tem gente que fala horrores:
“O consumo frequente pode desencadear fatores desagradáveis, como dores de cabeça, excitação das papilas gustativas da língua – enganando o cérebro e fazendo com que cause vícios por alimentos com mais açúcares, gorduras e ainda mais glutamato monossódico – e, por consequência, seu uso contínuo pode causar hepatotoxicidade, ou seja, intoxicação do fígado“, sentencia a nutricionista Cristiane Coronel.
Mais: sendo uma ocitocina, o glutamato excita os neurônios e pode causar degeneração do sistema nervoso, o que pode contribuir para o desenvolvimento de doenças psicológicas, como a depressão e o transtorno de bipolaridade, além de doenças nervosas, como mal de Parkinson, Alzheimer e esclerose.
Legalmente, porém, o glutamato monossódico é classificado, desde 1958, como um aditivo seguro pela FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora de alimentos nos Estados Unidos, e desde 1987 tem autorização da OMS (Organização Mundial da Saúde) para uso em alimentos. Por isso mesmo, foi amplamente adicionado em alimentos ultraprocessados, deixando-os mais saborosos.
Ainda em defesa, ainda que indireta, do produto: o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) analisou a saudável beterraba e detectou 21 agrotóxicos dentre os 241 pesquisados. Além disso, 37 apresentavam resíduos de agrotóxicos não autorizados para a cultura da beterraba e 19 estavam acima do permitido. E querem que a gente evite o aji-no-moto?!
Aliás, tenho uma teoria: se, no tempo das grandes navegações, os nautas europeus passassem direto da Índia – onde, em tese, estariam pimenta, gengibre, cravo, canela, noz moscada, açafrão, cardamomo e ervas aromáticas – e chegassem ao Japão em sua busca, o aji-no-moto seria hoje uma das mais consagradas especiarias.
Em tempo: em meus parcos conhecimentos da língua japonesa, aji quer dizer sabor e moto, origem. Aji-no-moto significaria, pois, ‘origem do sabor’. O doku do título significa veneno. Daí, tirem suas próprias conclusões.