Sei que estamos um pouco fora de época para falar nisso, mas os italianos têm um ditado bastante sacana para definir as visitas que invadem nossas casas na temporada de férias: L’ospite è come il pesce, fra ter giorni rincresce. Algo como “o hóspede é como o peixe, depois de três dias começa a cheirar mal”. Sutil e preciso. Minha única ressalva é que alguns hóspedes nem precisam de três dias…

Eu e minha família, que temos a ‘sorte’ de morar onde os outros costumam querer descansar, passamos muito por esses percalços. Enfrentar a casa cheia de gente durante às vezes o mês inteiro não é para qualquer monge. Principalmente quando a relação de visitantes inclui esses hóspedes que se deterioram mais rapidamente.

Eles são de fácil identificação: estão de férias, e nossa vida particular que se adapte a essa condição; têm geralmente filhos pequenos, que a mãe “não sei mais o que fazer” e que vivem pulando com suas delicadas patinhas no sofá que você pagou quase cinco mil; mudam sua rotina como se estivessem numa pousada, pagando atendimento VIP; comem bem, bebem melhor ainda, e a única contribuição para o consumo é comprar uma costela no supermercado e te obrigar a fazer um churrasco.

Mas não são só eles que nos trazem transtornos. Mesmo os familiares mais queridos provocam alterações drásticas em nossa rotina. Principalmente no consumo, em geral: sua conta de luz e água vem triplicada; sua conta de supermercado, também – porque você passa a comprar leite que nunca toma, sucrilhos (que não comia nem quando era criança), três vezes mais pó de café, três vezes mais copos de requeijão, quatro vezes mais refrigerantes e muita, muita mistura, para acompanhar o arroz (que você comprou duas vezes mais).

E aí é um tal de acordar mais cedo que todo mundo, para preparar o café; ser obrigado a ver a novela das nove e o Faustão, que você detesta; estudar os horários de todo mundo, para organizar suas idas ao banheiro; pedir o varal emprestado do vizinho para secar suas roupas, porque todos os seus varais vão estar cheios de biquínis, cangas, bermudas, camisetas e toalhas multicoloridas dos hóspedes; e cozinhar para um batalhão, porque, mesmo se forem apenas quatro ou cinco pessoas, os visitantes sempre comem por um batalhão. E fique feliz se receber pelo menos um elogio pela comida.

Mas não há mal que sempre dure! Você vai receber um abraço de agradecimento “pela acolhida”, vai poder comer o resto dos salgadinhos que eles não conseguiram consumir, pode voltar a frequentar o banheiro na hora que bem entender, pode pendurar suas roupas nos seus próprios varais e pode até tirar a tevê da tomada. Nem precisa de férias: só a volta à rotina já é uma dádiva!

Só que no ano que vem tem mais, porém! Você fatalmente disse “volte sempre” quando recebeu o abraço de despedida, e os hóspedes costumam levar isso a sério! Prepare-se, pois! Quem mandou morar onde eles tiram férias?

Marco Antonio Zanfra

4 comentários

  1. Haha Não se preocupe.. se os hóspedes são também seus leitores, eles não voltarão ..
    Alias vou ter que mudar meus planos osra as proximas feriad… 🙄

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *