Acordo todo dia sem despertador. E me levanto da cama a qualquer hora. Ou melhor, sem hora para me levantar.
Mesmo sem compromisso marcado, mesmo sem hora, mantenho um relógio na cabeceira.
Gosto de olhar para ele quando acordo, todo dia às seis horas da manhã.
Um pouco antes até porque deixo o relógio adiantado uns 15 minutos. Assim, olho para o futuro, num universo sem tempo.
A vida corre, mas eu estou sempre na frente. Quando ela chega, eu já tomei café. O tempo passa e ainda são seis horas.
Esqueço o relógio e vou ouvir as notícias. Todas velhas, do dia anterior.
Faço meu desjejum, o mesmo de todo dia para não gastar tempo inventando coisas novas. Sem pressa. Afinal, estou adiantado.
Noto que sempre alguém precisa de atenção. As flores pedem água, uma planta precisa mudar de vaso. Tenho que varrer as folhas secas do jardim. Tudo passado a limpo e a tempo.
O relógio da sala está velho. Tenho que comprar um novo. Por enquanto vou usando meu relógio digital de pulso. Esse é preciso. Não atrasa.
Tiro o relógio e volto para o futuro. Vou ler um pouco para matar o tempo.
E o tempo passa. Daqui a pouco estou com fome de novo. Acho que é hora de almoçar. Ouço música. Todas velhas ou clássicas.
Novamente sintonizo as notícias, parecem as mesmas que já ouvi pela manhã.
Caminho lentamente para o tempo não me apressar. Preciso me sentar um pouco para o tempo me alcançar.
Olho pela janela e vejo que a noite já vai chegar. Acendo a luz antes de escurecer.
Mesmo não sabendo que horas são, se estou adiantado ou atrasado.
Deixa pra lá.





Bravo, Nereu!
Já pensou em adiantar o relógio em meia hora?