E de repente é domingo outra vez, e daqui a pouco é quarta-feira, e depois domingo, e depois quarta ou quinta. E estamos em setembro, e agora há pouco era mês de seu aniversário, abril, e daqui a pouco chegamos a dezembro, e você vai lembrar que agora há pouco era setembro, e daqui a pouco chega seu aniversário de novo, e logo você vai chegar aos setenta e lembrar que nos anos setenta comemorava o tri mundial e a entrada na faculdade, e agora comemora ainda estar vivo. Mas até quando?

O tempo não para. E quanto mais tempo se passou, mais rápido o tempo passa. O tempo voa para os mais velhos. Há uma teoria: uma criança de um ano de vida vai demorar uma vida inteira para ver um ano passar; para uma pessoa de cinquenta, esse mesmo ano vai demorar apenas o relativo a um quinquagésimo de sua vida. Mas que importa a teoria se os mais velhos sentem na prática essa velocidade? Os velhos sentem empiricamente com o tempo voa.

Para Virgílio, fugit irreparabile tempus, ou o tempo escapa, irreparável. Ou o tempo está a se perder. Não tem volta. A angústia é saber que não tem volta na mesma premissa em que se constata o quão rápido ele está passando. Renato Russo cantava que o que foi escondido é o que se escondeu e o que foi prometido ninguém prometeu, nem foi tempo perdido – mas com a ressalva: somos tão jovens.

Os jovens ainda vão demorar um bocado para sentir como o tempo voa.

Marco Antonio Zanfra

Um comentário

  1. “Batidas na porta da frente
    É o tempo
    Eu bebo um pouquinho
    Pra ter argumento

    Mas fico sem jeito calado
    Ele ri
    Ele zomba do quanto eu chorei
    Porque sabe passar
    E eu não sei…”

    (Resposta ao tempo) Nana Caymi

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *