Solitárias juntas

O que vocês veem nessa foto acima?

Árvores?

Elas estão juntas, porém sozinhas.

Ficam lá, no alto do morro, lado a lado, enfrentando sol e chuva. Ventos ao entardecer.

São sobreviventes. Foram poupadas de uma dizimação em massa, por serras impiedosas e tratores embrutecidos.

Permanecem altivas. Destacadas na paisagem.

Impassíveis, não querem outra vida. Ou talvez, no íntimo, desejariam viver longe dali. Num lugar incerto. Mais escondidas, protegidas, despercebidas.

Talvez fossem mais felizes. Ou não.

Fico pensando nelas quando me sento na sala e olho pela janela e vejo muitas árvores se mexendo ao sabor do vento, se

abraçando, se enrolando. Dando frutos ou flores. Juntas, formando bosques, unidas e irmanadas criando pequenas florestas, áreas de preservação.

Mas essas da foto estão sozinhas, sem vegetação em volta. Só terra arrasada, terra batida, sem nutrientes para atrair grama, capim ou mesmo mato. De preferência outras árvores.

Mas não. Nada brota em volta delas.

Por isso, continuam solitárias, uma ao lado da outra, quase em fila indiana.

São seis ou sete. De longe, algumas se parecem com palmeiras ou coqueiros. Genericamente sim, são árvores.

Através da janela, elas ficam olhando para mim. Porém, só olham para mim quando eu olho para elas.

Só consigo olhar para elas de longe. Ainda vou tentar chegar mais perto delas e tentar descobrir seus segredos ou desejos.

Elas numa vasta área transformada em condomínio. Aliás, condomínio é o que não falta aqui em Guararema. Todo dia surge um novo. E, para abrir ruas e demarcar lotes as árvores são derrubadas. Deveriam plantar outras, mas nem sempre acontece assim.

Eu já plantei oito no meu pequeno jardim.

A amora Dora, a pitanga Camila, a jabuticaba Alba (que eu apelidei de JabuticAlba), a acerola Laura, o limão Sebastião. E as floríferas Manacá e Jacarandá (dois).

Além disso, fico olhando para as seis ou sete árvores solitárias lá no horizonte. Enquanto elas olham de volta para mim.

Nereu Leme

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