Se é verdade que depois da tempestade vem a ambulância, 2021 deve ser o ano da redenção.
Depois do que passamos em 2020 – ou ainda estamos passando, já que esta joça ainda tem mais de um mês pela frente – ano que vem deve nascer, ao que nossa esperança indica, com um horizonte límpido, um cheiro de jasmins pelo ar, uma temperatura amena. Acima de tudo, com a volta do bom humor.
Só pode! Não há mal que sempre dure! Mesmo nos piores pesadelos, a gente acorda!
Pois 2020 está sendo um pesadelo difícil de acordar! Pior: é bissexto, e por isso tem um dia a mais de desgraças! Pior ainda: os personagens principais de nosso pesadelo continuam por aí, tramando desfechos inauditos e garantindo que acordemos com falta de ar e banhados em suor!
Mas o importante é que acordemos!
Não fossem as outras coisas ruins que aconteceram e acontecerão, só essa pandemia já daria a 2020 o título de pior ano do século. Quando é que nós, pobres mortais, poderíamos imaginar que um ser minúsculo nos fosse obrigar ao confinamento, conseguisse boicotar nossas relações humanas e nos fazer acreditar, finalmente, que não somos imortais?
Quando é que um ser invisível a olho nu – e invisível mesmo aos olhos mal e porcamente vestidos – seria tema de um filme de terror do qual faríamos papel de vítimas? E que quando a gente pensa que está indo embora volta a sorrir malignamente à nossa porta?
Pois é.
Mas 2020 vai ficar na história mais pelas perdas de gente boa do que por todo o estrago da pandemia. Num exercício rápido de memória, a gente consegue lembrar de quantos nos deixaram e ainda era cedo para terem ido embora: Aldir Blanc, Moraes Moreira, Vanusa (foto), Quino, Eddie Van Halen, Chadwick Boseman, Gilberto Dimenstein, Rubem Fonseca, Sérgio Sant’Anna, Luiz Alfredo Garcia-Roza…
… e Flávio Migliaccio, Little Richard, Sean Connery, José Paulo de Andrade, Ennio Morricone, Leonardo Villar, Kirk Douglas, Nirlando Beirão, Zuza Homem de Mello, Sérgio Ricardo, Jorge Fernando, Cecil Thiré…
E quantos daqueles que a gente gostaria de dizer já vai tarde apagaram suas luzes em 2020? Elias Maluco? Hosny Mubarak? Só? Nestes últimos suspiros do ano vai dar para compensar todas as demais perdas?
Sabemos que nada pode ser pior do que 2020. Mas infelizmente não poderemos apostar muitas fichas em 2021. Porque, apesar da esperança de uma vacina que nos devolva um pouco da vida normal além da pandemia, os principais vilões de nosso pesadelo vão continuar povoando as trevas, cortando nosso ar, sabotando nossa esperança. Apesar de não serem seres minúsculos e invisíveis a olho nu, a vacina contra eles ainda está um pouco distante!
Esses seres macroscópicos que vieram para infernizar o mundo têm a essencia ruim invisivel pra muita gente. Como é que pode que nao enxergam?
O ano está difícil e ainda pode piorar. Será?
Pois é, a vacina já é realidade, mas o fim da ignorância continua sendo só uma esperança.