Vi matéria, outro dia, sobre a lista de desejos de crianças de 5 e 6 anos, de uma escola de Belo Horizonte. Tinha de tudo, desde ser fada até passar o dia num spa (uau!!!) com as amigas.
Nesta idade, eu só queria que minha mãe vivesse para sempre. Morria de medo de perdê-la! Acho que meu desejo foi realizado: aos 92 anos, minha mãe aparenta ter uns 50. Vitalidade, disposição e capacidade de raciocínio não lhe faltam. Sempre digo que irei embora deste mundo antes dela. Ainda bem!
Na verdade, lá pelos idos de 1960-1970, tudo o que queríamos era… sermos crianças. correr na rua, andar de bicicleta, jogar bolinha de gude, descer ladeiras em carrinho de rolimã, soltar pipa, brincar de índio e cowboy ou de casinha e outras atividades infantis faziam parte do nosso dia a dia.
Só comecei a pensar no que queria ser, quando crescesse, por volta dos 14-15 anos. Acompanhada por um namorado mais velho, ia até o Autódromo de Interlagos, assistir corridas. Foi quando comecei a sonhar em ser piloto. Falei com meu pai. Ele disse ser algo impossível, porque só havia pilotos homens. Era um mundo onde as mulheres entravam apenas como espectadoras, namoradas ou esposas de pilotos.
Aos 17, pensei em entrar para as Forças Armadas, de preferência na Aeronáutica. Mais uma vez, esbarrei na questão do sexo. As mulheres só começaram a ser aceitas – e apenas na Marinha – no início de 1980, quando eu já estava com 25 anos.
Naquela altura do campeonato, já formada em jornalismo, eu trocara meu sonho de ser militar, por outro: policial que desvenda crimes e prende bandidos. Sim, ainda era um mundo masculino, mas já aceitava mulheres. Quando abriu concurso público, me inscrevi para o cargo de escrivão. Nada glamouroso, perto do que eu sonhava, mas era um começo…
Comentei minha intenção com o colega veterano no Jornalismo, ás na área policial, Ramão Gomes Portão.
– Do jeito que você é, não vai viver um mês.
– Como? Que jeito?
– Fala o que pensa e não vai concordar em participar de nenhuma coisa errada. Darão um jeito de apagar você, rapidinho.
Não precisou explicar mais nada. A corrupção na polícia e na política eram bem conhecidas de todos nós.
Resolvi ficar quietinha na redação, num jornal de extrema direita, onde não corríamos nem o risco de sermos presos, torturados e mortos no DOI-CODI do Comando do 2º Exército, na rua Tutóia.
Hoje, pensando no assunto, vejo que fiz o certo ao ficar no jornalismo. Se fosse piloto de corrida, poderia ter me tornado um Nelson Piquet – bolsominion; nas Forças Armadas, um Pazuello – bolsomínion e, na Polícia, um Ramagem – bolsominion. Como jornalista, não fiquei famosa, mas consegui manter a minha capacidade de distinguir o bem do mal.
Hoje, aposentada do jornalismo, prefiro a tecnologia da informação. Sempre é possível mudar e buscar novos sonhos.