Se os diletos leitores viram filmes de Lassie e Rintintin, como eu, sabem que os cães são seres admiráveis. Destemidos, corajosos, solidários, amorosos, fiéis, parceiros… Amam incondicionalmente. Não hesitam antes de colocar a própria vida em risco para nos proteger ou mostrar sua dedicação.
Que outro animal doméstico permaneceria numa estação ferroviária, por anos a fio, na chuva e no sol, esperando a volta de seu amado tutor falecido, como o akita Hachiko no filme ‘Sempre ao seu Lado’? Um gato? Ora, até Coragem o Cão Covarde seria mais confiável…
Aqui perto, não faz muito tempo, um cão foi responsável por evitar que um idoso bêbado morresse no incêndio em seu quarto: ele arrancou o homem da cama com os dentes e o arrastou para fora do alcance das chamas. Só não pôde ser glorificado como merecia porque morreu em consequência da inalação da fumaça, enquanto socorria o velho. Um herói coberto de honras póstumas.
Mas tem quem prefira os gatos. Não condeno. Até acho os gatos divertidos, com o mau humor que transborda mesmo quando estão brincando. Os filhotes são muito fofos. Perco bons momentos vendo vídeos de gatinhos no Instagram. Mas não passo disso. Pessoalmente, não me dou com eles.
Se os gatos têm a simpatia – ainda que, no meu caso, seja apenas em vídeos – os cães têm a empatia. Prova mais recente disso foi a comoção nacional provocada com a morte do golden Joca, após uma desastrada viagem de avião. Quantos não se associaram à dor de seu tutor?
Provavelmente todos que sentiram a dor pela partida de Joca haviam sentido dor semelhante com a perda de seu próprio cãozinho. Como eu.
Voltando ao idoso que foi salvo do incêndio, o que um gato faria?
Nem se o velho bêbado estivesse deitado em cima de seu pratinho de Whiskas ele o tiraria de lá. Provavelmente, sairia da casa e iria procurar um lugar menos quente para dormir.
Em relação ao cão, caso ele não tivesse força física para resgatar o tutor, sairia a latir para pedir ajuda a quem estivesse mais próximo. Como Lassie e outros tantos cães-heróis fizeram, em incontáveis e icônicos filmes.
Foi o que aconteceu esses dias com Blue, um cão da raça whippet (semelhante ao da ilustração) que correu por seis quilômetros na mata fechada, com um caco de vidro enterrado no focinho, para buscar ajuda. Seu tutor, Brandon Garrett, havia perdido a direção da caminhonete em que viajavam e despencara numa pirambeira de difícil acesso, no Oregon. O cão voltou ao local onde eles estavam acampados para buscar socorro.
E graças a ele e a um complicado esquema de resgate, Brandon e outros três cães, que também ficaram no veículo foram salvos.
O detalhe é que, no total, quatro cães viajavam na caminhonete. Brandon apreciava somente a companhia de cães. Não havia nenhum gato. E isso deve significar alguma coisa. Ainda que com um pouco de má vontade de minha parte.