Pedro Bó

Os jornalistas de hoje em dia são a personificação do Pedro Bó, aquele personagem ingênuo (eu chamaria de idiota) do Chico Anysio que fazia perguntas absurdas e acreditava em todas as mentiras que ouvia do Coronel Pantaleão. 

Nas matérias sobre o tornado no Paraná, um repórter pergunta para a moradora: “Fez muito barulho”. Resposta que deveria ter sido dada: “Não, Pedro Bó, foi silencioso…”

Numa outra matéria, em entrevista a um político de direita, deixam as mentiras dele irem ao ar, sem nenhum questionamento. “Foi um sucesso”, diz o governador bolsonarento do Rio, Cláudio Castro, sobre a chacina de mais de 120 pessoas num ataque desproporcional feito por 2.500 policiais nas comunidades da Penha e do Alemão. 

E são muitos os exemplos de jornalista Pedro Bó vistos e ouvidos diariamente, na mídia corporativa. Isso quando não repetem à exaustão os releases oficiais como se fossem verdades indiscutíveis ou apenas divulgam postagens de redes sociais. 

Na época em que eu atuava como jornalista, corria risco de demissão se, num velório, perguntasse a um parente do morto: “Como você se sente”. Ou se noticiasse um release sem nenhuma apuração e/ou contestação. 

Hoje, não se apura nem se contesta nada, na hora do fato. Nos dias seguintes, tentam corrigir a falha, mas os estragos já foram feitos. Lembram quando o Tarcínico de Freitas, sem provas, disse que o PCC tinha orientado o voto em Boulous? A mídia divulgou a afirmação como real, provavelmente causando um dano irreparável à candidatura do psolista. Claro que tudo fazia parte da paixão do empresariado pela extrema direita. E os Pedro Bó obedeceram aos patrões sem pensar.

Difícil viver num mundo onde não dá para confiar nem na imprensa que arrota ser confiável nem em postagens nas redes sociais nem em pessoas que consideramos bem-informadas. Melhor se tornar ermitão, abolindo, de vez, até o lado bom do avanço tecnológico??? Sinceramente, não sei…

Célia Bretas Tahan

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